segunda-feira, 29 de outubro de 2012


A VIRGEM DO LEILÃO

Não sou moralista devotado, mas a notícia de que um lance de R$ 1,5 milhão, um japonês comprou a virgindade de uma moça, é algo de se discutir até aonde vai o moral e os bons costumes da família brasileira.
E  o pior, a mídia se presta para promover o leilão online da relação sexual entre Catarina Migliorini, 20 anos, que participa de documentário do cineasta australiano, Justin Sisely.
Em entrevista à Fox News em 2011, Sisely disse que a virgem ficará com todo o dinheiro dos lances, para que ela não possa ser acusada de ganhar dinheiro com a iniciativa. Na mesma entrevista, o cineasta disse que considera que isto é arte, não prostituição.
Em entrevista ao jornal australiano Herald Sun, Catarina disse que quer encontrar alguém depois, porque o leilão é uma oportunidade de negócio, e não uma oportunidade amorosa. De acordo com as regras do leilão, publicadas na internet, a relação sexual acontecerá até dez dias depois de o vencedor ser definido. Catarina terá de passar por um exame médico que garanta sua virgindade ao comprador e o vencedor do leilão, idem, para mostrar que não possui doenças sexualmente transmissíveis. As regras definem que, durante a relação sexual, o comprador não poderá estar drogado, envolver uma terceira pessoa, beijar a virgem, realizar qualquer fantasia ou fetiche, usar brinquedos eróticos, telefone ou qualquer aparelho de gravação. A duração mínima da relação sexual será de uma hora. Só uma relação sexual é exigida e nenhuma outra pessoa além do comprador e da virgem poderão entrar no local. Não haverá filmagem deste momento.
Acho deprimente e ob-reptício o comportamento dessa moça que na verdade faltou com a prática dos bons costumes e mexeu com o sentimento ético da família brasileira.
Apesar de ver e ouvir muitas coisas, ainda fico surpreso e não sei se este seria o melhor termo a usar, em relação ao comportamento das pessoas. É impressionante e até mesmo triste de ver a falta de ética e vergonha que vem imperando nas relações humanas em nossa sociedade. Muitas pessoas ainda pensam, apesar de este ser um assunto que está muito em voga, que a ética só existe nas relações profissionais, e comerciais. Não sabem que se não formos éticos conosco, não conseguiremos ser com os demais. O conceito de ética não pode ser confundido com o conceito de moral. A ética é internalizada e construída no ambiente familiar, cultural, acadêmico e afetivo, no decorrer do desenvolvimento da personalidade. Construída de dentro para fora. Apesar de a moral também ser internalizada e construída, ela parte de um grupo social, que lhe ensinará as normas ou regras de como deverá funcionar, mas não as impõe. A moral é construída de fora para dentro. Durkheim conceituava moral como a "ciência dos costumes", sendo algo que é anterior a própria sociedade. Já no entendimento de Piaget o indivíduo vai internalizando conhecimento e saberes, construindo a sua consciência ética e moral. Entretanto o que tem se percebido no mundo moderno é que esses conceitos em relação à ética e moral foram se perdendo, levando as pessoas agirem da forma que lhes beneficie, não importando os prejuízos que poderão causar no outro ou a si mesmo.
O avanço da ciência, da tecnologia parece ter contribuído muito para isso e aí sou obrigado a lembrar de Rousseau que colocava que "o avanço da civilização provocou o retrocesso moral do homem". Nesse mundo dinâmico em que vivemos, não podemos pensar em ética e moral como coisas estáticas, pois as mudanças constantes que vem acontecendo em todos os segmentos de nossas vidas, nos obrigam a rever nossos conceitos, nossos julgamentos. Entretanto, o preocupante é a falta de ética que as pessoas têm para consigo mesmo. Não se valorizam não se respeitam, se violentam, se agridem. O ter passou a ser o centro de tudo. As pessoas não têm mais valor pelo que são, mas sim pelo que tem. Os relacionamentos se firmam em cima de interesses e não de sentimentos. Penso que não é o dinheiro, o status que estabelece as nossas virtudes, mas os nossos valores, a nossa postura ética, principalmente a que temos para conosco.

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