Entidades farão lavagem simbólica da rampa do
Congresso para protestar contra provável retorno do peemedebista ao comando do
Senado, de onde ele foi varrido por uma série de denúncias em 2007
Em 2010, entidades contra a corrupção lavaram a
rampa do Congresso pela Lei da Ficha Limpa
Ex-juiz da Suprema Corte dos EUA, Louis Brandeis
costumava dizer que “a luz do sol é o melhor desinfetante”. A frase ficou
conhecida no Brasil especialmente durante o julgamento do mensalão, quando
integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF), como Ricardo Lewandowski e o
ex-ministro Carlos Ayres Britto, recorreram a ela para tratar do caso. A luz,
porém, não será o único desinfetante a passar pela rampa do Congresso amanhã
(30).
A partir das 15h, o local será lavado, com
vassouras verdes e amarelas e muito sabão, como uma forma de protesto contra a
provável recondução de Renan Calheiros (PMDB-AL) à presidência do Senado, seis
anos depois de ele ter deixado o comando da Casa varrido por uma série de
denúncias. Motivadas por mais de 16 mil assinaturas virtuais de um
abaixo-assinado, entidades e associações da sociedade civil decidiram se
manifestar contra a escolha do peemedebista para o cargo. Retirado da posição
em 2007 sob suspeitas, Renan é apontado como favorito para presidir a Casa
pelos próximos dois anos. A eleição está marcada para esta sexta-feira (1º).
A manifestação é organizada por uma série de
entidades. O Congresso em Foco é uma delas. O objetivo é pressionar os
senadores a eleger um presidente que não tenha problemas com a Justiça – o que
não é o caso de Renan. Apesar de não ter oficializado sua candidatura, o que
deve ocorrer somente nos próximos dias, o atual líder do PMDB no Senado tem
sido alvo de novas denúncias. No sábado, após este site revelar que o
procurador-geral da República, Roberto Gurgel, pediu ao STF que o transforme em
réu de uma ação penal, ele admitiu, pela primeira vez, que será candidato.
Para Jovita José Rosa, coordenadora do Movimento de
Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) e presidenta do Instituto Finanças e
Controle (IFC), a eleição de candidatos com o passado problemático vai na
contramão do que o próprio Congresso decidiu e do que a sociedade deseja. “Nós
queremos ficha limpa para todos os cargos, inclusive para presidente da Câmara
e do Senado”, afirmou. O MCCE é o grupo que reuniu as assinaturas necessárias
para a apresentação no Congresso do projeto que resultou na criação da Lei da
Ficha Limpa, idealizada pelo próprio movimento.
No sábado, o Congresso em Foco mostrou que o
procurador-geral da República, Roberto Gurgel, denunciou o peemedebista no caso
das notas dos “bois de Alagoas”, derivado das suspeitas de ter despesas
particulares pagas por um lobista de empreiteira. Entre essas despesas, estavam
a pensão e o aluguel de um apartamento para a jornalista Mônica Veloso, com
quem o senador tem uma filha. O inquérito que investiga Renan está nas mãos do
ministro Ricardo Lewandowski.
“Graves denúncias pesam sobre a vida política de
Renan e é inaceitável que ele retome um dos mais altos postos da República
antes que tudo seja esclarecido. O Senado não pode continuar sendo dirigido por
representantes de oligarquias políticas atrasadas e cruéis, que se apropriam em
benefício próprio da riqueza do país e do fruto do trabalho do povo”, diz a
petição.
No início da manhã, os manifestantes vão decorar as
áreas próximas ao Congresso com vassouras, baldes e produtos de limpeza. Depois,
às 15h, começa o ato de lavagem da rampa. Também está previsto para amanhã o
anúncio da candidatura de Renan. “Fazemos um apelo aos senhores senadores para
que escolham um presidente ficha-limpa, comprometido com o desenvolvimento
social e que seja capaz de dirigir o Senado com independência e dignidade”,
completa o texto.
Fazem parte também do grupo de entidades, além do Congresso
em Foco, o Rio de Paz, o Movimento 31 de Julho, o Instituto de Fiscalização e
Controle (IFC), o Nas Ruas, a Voz do Cidadão, o Queremos Ética na Política, o
Revoltados On Line, Renovadores UDF, OCC Alerta Brasil, a Ong Moral, a
Associação Diamantina Viva, a Juventude Consciente, a Erga Omnes, o Comitê
Ficha Limpa DF, o Instituto Soma Brasil, o Instituto Atuação, o Amarribo e a
Associação Contas Abertas.
Em 2010, para pressionar o Congresso a aprovar a Ledi da Ficha Limpa, manifestantes e integrantes do Movimento de Combate a
Corrupção Eleitoral, coletivo formado por mais de 40 entidades, também fizeram
uma lavagem simbólica da rampa da Casa. Na época, funcionou.
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