Escândalo e mais escândalo
Está cada vez mais difícil encontrar um político ficha limpa neste país. Na Câmara dos Deputados, sem falar no Senado, são vários os seus integrantes envolvidos em procedimentos criminosos.
O deputado Henrique Eduardo Alves, PMDB, é o presuntivo novo presidente
da Câmara. Ele veio a Porto Alegre semana passada para pegar o apoio dos
deputados federais do Partido (Osmar Terra, Darcisio Perondi, Eliseu Padilha e
Alceu Moreira) mas também conversar com os deputados estaduais e dirigentes
partidários. Além de vir buscar apoio teve que se explicar sobre as denúncias da
revista Veja, segundo as quais ele meteu a mão em dinheiro que não podia, ao “contratar” uma empresa de fachada para
fazer de conta que aluga automóveis para seu uso, visando com isto mascarar
dinheiro grosso que recebeu indevidamente. Ao praticar atos igualmente
lesivos aos fundos da Câmara, João Paulo Cunha virou bandoleiro no STF.
Neste domingo, o jornal Folha de S. Paulo
também atacou Alves, mas por outra razão pior ainda. É que o deputado foi acusado de ter direcionado recursos de emendas parlamentares a uma empresa de um assessor lotado em
seu próprio gabinete. É o que
informa reportagem de Leandro Colon, neste domingo, na Folha. Os recursos das emendas foram parar na empresa Bonacci
Engenharia e Comércio, que pertence a Aluizio Dutra de Almeida e é também
tesoureiro do PMDB em Natal (RN), a base eleitoral de Henrique Eduardo Alves.
Segundo o esquema, o deputado direcionava emendas para prefeituras comandadas
pelo PMDB no Rio Grande do Norte e os prefeitos, em seguida, contratavam a
Bonacci. Os valores das emendas variavam entre R$ 100 mil e R$ 200 mil e
beneficiavam cidades como São Gonçalo do Amarante, Brejinho e Campo Grande. Em
2002, Henrique Eduardo Alves foi cotado para ser vice de José Serra, mas perdeu
a vaga quando um escândalo o derrubou.
Favorito para vencer a disputa pela
presidência da Câmara dos Deputados, o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves,
deputado federal há 42 anos, se apresenta como um profundo conhecedor dos
meandros do Parlamento. Trata-se da mais pura verdade, como se verá a
seguir.Como todo deputado, o potiguar Alves recebe, além do salário, uma ajuda
de custo de 32 mil reais para bancar as despesas do mandato. No seu caso, mais
de um quarto desse dinheiro (8.300 reais) é gasto a cada mês com aluguel de
veículos, segundo sua prestação de contas. Ocorre que as notas fiscais que
Alves apresenta para comprovar essas despesas são emitidas por uma empresa
registrada em nome de uma laranja - ligada a um conhecido ex-assessor de seu
partido.
A Global Transportes tem como
endereço uma casa na periferia de Brasília. No papel, pertence à ex-vendedora
de tapetes Viviane dos Santos. Localizada por VEJA, Viviane disse nem saber da
existência de contrato com o deputado. Ela afirma que, na verdade, emprestou
seu nome a uma tia - e admite que a empresa da qual é “dona”, e que supostamente
aluga veículos, não possui um carro sequer. A tia de Viviane, que fornece as
notas ao gabinete do deputado Alves, é quem tenta explicar: “Nós arrumamos
carros com terceiros e os alugamos”. Procurado, Henrique Alves primeiro disse
que, quando está em Brasília, utiliza carro próprio. Depois, corrigiu-se
afirmando que o carro que usa na capital é alugado, sim, mas ele não se lembra
nem mesmo do modelo. Por fim, mandou que um funcionário de seu gabinete, desse
explicações. “Você acha que eu cuido disso?”, reagiu Alves. O funcionário,
porém, foi de uma sinceridade rara: “Talvez o deputado não se lembre, mas foi
ele quem mandou contratar essa empresa”.
Por trás da mamata está um ex-assessor do PMDB. Ele foi sócio da
Executiva, outra empresa que não existe no endereço declarado. A Executiva
forneceu notas a Henrique Alves até se enrolar com a Justiça e ser substituída
pela Global. Desde 2009, Alves destinou às duas empresas, sob a batuta de César
Cunha, 357.000 reais. Daria para comprar cinco carros executivos. Na campanha
pela presidência da Câmara, Alves tem dito que trabalhará para limpar a imagem
da Casa, manchada por escândalos. Pelo visto, terá de começar pelo próprio
gabinete. Estranho
que ainda existam esses contratos de locação. No meu tempo de Câmara essa
marcutaia havia sido suspensa, tamanho era o desvio de dinheiro através de
laranjas.
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