SÃO
PAULO QUER ACABAR COM A CRACOLÂNDIA.
As
opiniões estão muito divididas a respeito da compulsoriedade da internação dos
viciados em drogas da Cracolândia em São Paulo, medida adotada pelo governo do
Estado, com a cooperação da Justiça e Secretaria da Saúde.
O
educador Adriano Camargo, 36, afirma ser um dependente em tratamento. Há cinco
anos "limpo", diz que só deixou o crack após procurar ajuda sozinho.
"Já
fui internado involuntariamente [a pedido de familiares] e compulsoriamente.
Foram cinco vezes. A única que deu certo foi a última, quando fui por conta
própria", afirma.
Segundo
Camargo, um juiz o internou porque ele estava cometendo pequenos furtos.
"Me livrei só quando fiquei num lugar que me mostrou que, antes do vício,
eu tinha conflitos internos, familiares. Tratei disso e parei com o
crack."
Por
sua vez o cantor Rafael Ilha, 39, ex-integrante do Polegar - grupo que fez
sucesso nos anos 1980 - disse que já foi internado compulsoriamente
"várias vezes".
É
a favor da medida, mas "em último caso, quando o dependente está muito
debilitado".
Em
2000, ele teve de ser operado após burlar a segurança e engolir duas pilhas
durante tratamento. Ele afirma que se livrou do vício quando foi internado
contra a vontade.
"Na
minha última internação, fiquei um ano numa clínica. Foi assim que me recuperei",
afirmou.
Atualmente,
Ilha trabalha com a apresentadora Sônia Abraão.
É
complicado opinar a respeito de um tema tão controverso. É como diz o chavão:
se correr o bicho pega, se parar o bicho come.
Você
já reparou que é sempre a mãe, quando há casos de viciados na família, que toma
providências; que vai atrás de tratamento do filho viciado; que é sacrificada
pelo viciado quando furta em casa objetos para comprar a droga?
É
sempre a mãe, o pai se manda. Quase nunca aparece.
Outro
assunto.
Discute-se
no momento a privatização dos presídios. O governo Tarso Genro é contra. Ele
prefere pagar R$ 2 mil por preso, que é a despesa mensal de um detento para a sociedade gaúcha.
Os
nossos presídios estão sucateados e em péssimo estado. Existem cadeias em que
os presos convivem com ratos, baratas e percevejos, como nos tempos medievais.
O
presídio estadual de Erechim cuja lotação normal seria para 150 presos, está
hoje com o dobro de detentos. Destes cerca de 40 mulheres. Aliás, um outro
problema sério.
Não é novidade que o sistema penitenciário
brasileiro faliu e que não recupera ninguém. Faltam mais de 130 000 vagas – só
para aqueles que já estão presos, sem contar os outros 200 000 que deveriam ser
presos em face dos mandados de prisão expedidos. Facilmente compreende-se que o
Estado não poderá, sozinho, resolver esse problema, que na verdade é de
toda a sociedade. Daí surge a tese da privatização dos presídios, tão-somente
para chamar a participação da sociedade, da iniciativa privada, que viria a colaborar com o Estado nessa importante e
arriscada função de gerir nossas prisões. A vantagem da privatização, na
modalidade da terceirização, é que ela faz cumprir a lei, dando efetivas
condições de o detento se recuperar, ao contrário do sistema estatal, que só
piora o homem preso.
A ideia é nova não só no Brasil,
mas no planeta. O mundo conhece os presídios privados há cerca de dez anos,
havendo hoje duas formas de privatização. Com o primeiro modelo, o americano,
não se pode concordar, diante das nossas restrições constitucionais. Ali, o preso
é entregue pelo Estado à iniciativa privada,
que o acompanhará até o final de sua pena, ficando o preso
inteiramente nas mãos do administrador. No Brasil,
é indelegável o poder jurisdicional do Estado, que contempla o tempo que o
homem fica encarcerado e suas infrações disciplinares no cárcere.
Já no modelo francês, o Estado permanece junto à iniciativa privada, numa co-gestão. Ou seja, o administrador vai gerir os
serviços daquela unidade prisional – alimentação, vestimenta, higiene, lazer
etc. – enquanto o Estado administra a pena, cuidando do homem sob o aspecto
jurídico, punindo-o em caso de faltas ou premiando-o quando merecer. É o
Estado que, detendo a função jurisdicional, continua a determinar quando o
homem vai preso
e quando será libertado. Trata-se de uma terceirização, em que a remuneração do
empreendedor privado deve ser suportada pelo Estado, jamais pelo preso,
que deve trabalhar e, com os recursos recebidos, ressarcir prejuízos causados
pelo seu crime, assistir a sua família e poupar para quando for libertado.
No início, o custo do preso
no sistema terceirizado era de aproximadamente 2 000 reais por mês. Hoje já
baixou para 1 200 reais, englobando toda a assistência ao preso.
Já no sistema estatal, é de cerca de 800 reais, sem qualquer assistência
ou possibilidade de recuperação. O mesmo valor, investido no sistema estatal,
não resolveria? Penso que não, pois o sistema estatal apresenta problemas
estruturais intransponíveis, que jamais serão sanados a ponto de se ter o
cumprimento integral da Lei de Execuções Penais, com a efetiva possibilidade de
recuperação do preso.
O preso
deve apenas perder sua liberdade e nada mais. Todas as atrocidades e
humilhações sofridas por ele são de responsabilidade do Estado e têm de ser
evitadas. As unidades prisionais privadas podem preservar a dignidade do preso,
de modo especial se estivermos tratando do provisório, que ainda não foi
julgado e que pode ser absolvido. Quem lhe restituirá o que perdeu na cadeia,
a dignidade que lhe foi aniquilada?
Quanto ao pessoal envolvido, só há vantagens. Se
houver qualquer irregularidade, corrupção ou outro desvio, o funcionário
é demitido, resolvendo-se o problema. Diferentemente do espaço estatal,
onde tudo depende de sindicância, processo etc.
Há hoje duas experiências de privatização de
presídios, na modalidade de terceirização, existentes no país. A primeira na
cidade de Guarapuava (PR), onde se instalou, há dois anos, a primeira unidade
prisional terceirizada brasileira. Registre-se que, em dois anos, nenhuma
rebelião ou fuga ocorreram. Todos os presos trabalham, muitos estudam e todas
as condições de higiene e saúde são garantidas pelo Estado e fornecidas pela
administradora privada. A comida é servida de forma que o preso
abastece seu prato à vontade, terminando com o deplorável expediente, que nutre
a corrupção, de se ter que comprar um bife ou duas batatas a mais.
A segunda experiência no Brasil
ocorre em Juazeiro do Norte (CE), com os mesmos resultados satisfatórios,
destacando-se que os presos, que também trabalham, o fazem confeccionando joias,
sem que tenha havido qualquer incidente. Enfim, estas experiências são um
sucesso e precisam ser observadas, sem paixões, para se constatar o óbvio: que
essa nova forma de gerenciar cadeias é processo irreversível no Brasil
diante do sucesso obtido. Basta de tamanha indiferença, para um tema tão
relevante.
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