A PRIVACIDADE DOS MERITÍSSIMOS
Se o teto de vencimentos
estabelecido em lei não podem passar dos R$ 26,7 mil, por que os
ministros do STF - Superior Tribunal Federal podem ganhar acima disto? É a
pergunta que todos fazem, depois que saiu a lista salarial divulgada pela corte
no seu site na sexta-feira,20, em cumprimento à Lei de Acesso à Informação.
Isto tudo é revoltante e a sociedade fica pasma, aceita, não protesta e
fica por isso mesmo. A situação é tão vergonhosa que mais de cem servidores do
STJ, sob o mesmo argumento de incorporação de bonificações, e outros
pinduricalhos também ganharam acima do limite constitucional. E não acontece
nada?
No Superior Tribunal de Justiça, em seis casos, o contracheque ficou
acima de R$ 50 mil, entre os quais o da corregedora do Conselho Nacional de
Justiça (CNJ), ministra Eliana Calmon, que recebeu R$ 62 mil brutos. O campeão
do mês foi o ministro Massami Uyeda, com R$ 64,5 mil. Em todos os casos, o
valor alto se deveu à antecipação de férias, mais o abono de um terço a que
todo trabalhador tem direito, segundo explicou o tribunal. Os outros com
salário gordo foram Napoleão Maia (R$ 58 mil), Teori Zavascki (R$ 58 mil),
Antônio Ferreira (R$ 56 mil) e Ricardo Cueva (R$ 56 mil). O STJ foi o terceiro
tribunal superior a divulgar a lista nominal de salários de todos os
servidores, seguindo o exemplo do Tribunal Superior do Trabalho e do Supremo
Tribunal Federal. O prazo do CNJ para a Justiça se adequar à lei já terminou.
Mais de 80% dos tribunais não o cumpriram. Alguns pediram mais prazo, outros
recorreram à lei para não divulgar nomes e a grande maioria alegou
impossibilidade técnica para cumprir a norma. No caso do STJ, os menores
salários entre os ministros foram pagos a Félix Fischer – R$ 28,5 mil brutos e
R$ 20,6 mil líquidos – e ao presidente da corte, Ari Pargendler, que ganhou R$
30 mil brutos e R$ 21,9 mil líquidos. Desde 2010, o STJ já divulgava todos os
seus gastos em detalhe, inclusive os salariais, mas sem dar os nomes (portanto
não era possível saber o salário dos ministros). A alteração foi feita por
causa da Lei de Acesso à Informação e à Resolução 151 do CNJ, que deu prazo até
20 de julho para o Judiciário disponibilizar dados completos na internet.
Aqui no Rio Grande do Sul está havendo uma manha por parte do Poder
Judiciário que tenta se fazer de desentendido para não divulgar os salários dos
juízes, procuradores e demais componentes do poder, considerando que a divulgação nominal dos salários viola a privacidade dos servidores do
Judiciário. Que os Tribunais de Justiça não queiram divulgar os vencimentos de
juízes e funcionários se compreende, embora não se aceite. É o velho jus
esperniandi, o direito de chiar. Trata-se, como em tantos outros casos, de
um retrato da identidade brasileira, ou, melhor dito, da elite brasileira.
Ora, se a Câmara,
Senado, Assembleias Legislativas, Câmaras de Vereadores, Presidência da
República, Governadores, Prefeitos etc., divulgam seus salários, que história é
essa dos meritíssimos ocultarem quanto ganham? Ou a Lei é para todos, ou para
ninguém.
Para encerrar a
semana: Estimulado por integrantes da cúpula do PT, três coordenadores
do setor jurídico do partido de São Paulo entraram nesta quarta-feira com
representação na Justiça Eleitoral para tentar convencer os ministros do
Supremo Tribunal Federal da "inconveniência" de julgar o mensalão
agora. No ofício, encaminhado à presidente do Tribunal Superior Eleitoral
(TSE), Cármen Lúcia, que também é ministra do STF, os petistas dizem ser
"inoportuno" a ocorrência do julgamento em período eleitoral. As
informações são do jornal Folha de S. Paulo. "Tem-se o pior dos
mundos: a judicialização da política e a politização do julgamento", diz o
texto, que acrescenta: "É duplamente inoportuno marcar um julgamento na
véspera da eleição, em pleno curso da campanha. Sacrificam-se os direitos
individuais e desequilibra-se o pleito, do qual o Supremo Tribunal Federal se
transformará no principal protagonista." O julgamento está marcado para
começar no dia 2 de agosto e decidirá o futuro de 38 réus, incluindo toda a
ex-cúpula nacional do PT e o ex-ministro José Dirceu.
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