segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Papado de Bento XVI foi marcado por escândalos, polêmicas e visitas históricas

Relembre os principais fatos do período em que o papa ficou no cargo; ele anunciou sua renúncia nesta segunda-feira


A renúncia do pontífice Bento XVI ao cargo, anunciada nesta segunda-feira, marca o fim de um papado cheio de escândalos, denúncias e visitas históricas. Desde a ascensão à liderança da Igreja, em 2005, ele se esforçou para lembrar uma Europa secular de seu passado cristão e colocar o catolicismo em um caminho mais conservador e tradicional.
Bento 16 assumiu em um momento tumultuado, quando começavam as denúncias de abuso de crianças na Igreja Católica. O escândalo chegou ao auge em 2010, com milhares de pessoas na Europa, Austrália e América do Sul dizendo ter sido molestadas sexualmente por padres – e acusando bispos de terem encoberto seus crimes.


AP
Papa durante anuncia sua decisão de renunciar ao cargo
Documentos revelaram que o Vaticano estava ciente do problema, mas fechou os olhos para o assunto durante décadas, por vezes rejeitando bispos que tentavam fazer a coisa certa. Bento 16 foi um dos primeiros a tomar conhecimento do problema como líder da Congregação para a Doutrina da Fé, para a qual foi nomeado em 1981. O escritório era responsável por lidar com os casos de abuso e, por isso, houve pedidos para que o papa renunciasse.
O pontífice nunca admitiu qualquer falha do Vaticano ou pessoal, preferindo fazer um pedido de desculpas, apelos por reformas na Igreja e promovendo encontros e orações com vítimas. Ele prometeu que “todo o possível” seria feito para que crimes semelhantes nunca acontecessem, levando o Vaticano a atualizar seu estatuto de limitações e pedindo sugestões de bispos para regras que ajudassem a prevenir abusos.
Para muitas vítimas, não foi o bastante, já que não houve ação contra bispos que ignoraram ou encobriram as ações de padres, no máximo tranferindo-os para outros postos.
Em 2012, outro escândalo, conhecido como Vatileaks, abalou o Vaticano. Documentos confidenciais vazados à imprensa – incluindo cartas pessoais entre cardeais, o papa e políticos – mostraram corrupção na concessão de projetos de infraestutura e uma luta de poder entre grupos rivais da Igreja.
Acusado de ser o responsável pelo vazamento, o mordomo do papa, Paolo Gabriele, foi preso em maio e condenado em outubro a 18 meses na prisão. Em dezembro, Bento 16 perdoou Gabriele, que foi libertado.
Veja os principais momentos do papado de Bento 16:
19 de abril de 2005: O cardeal alemão Joseph Ratzinger é eleito para suceder João Paulo 2º como 265º líder da Igreja Católica Apostólica Romana. Ele assume o nome de Bento 16.
29 de novembro de 2005: O Vaticano impõe restrições à ordenação de homossexuais como padres.
9 a 14 de setembro de 2006: O papa visita sua terra natal, a Baviera. Em discurso no dia 12, em Regensburg, ele motiva protestos do mundo islâmico ao citar um imperador bizantino do século 14 segundo o qual o islamismo se difundiu pela espada e só fez mal ao mundo. Dias depois, bento 16 diz "lamentar profundamente" a reação muçulmana ao seu discurso, que segundo ele foi mal compreendido.
28 de novembro a 1º de dezembro de 2006: Uma viagem à Turquia marca um esforço de conciliação, incluindo orações na direção de Meca com o grão-múfti de Istambul, na Mesquita Azul.
9 a 13 de maio de 2007: Faz visita o Brasil, onde encontra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, celebra missa em São Paulo e Aparecida e canoniza Frei Galvão, primeiro santo brasileiro.
7 de julho de 2007: O papa emite uma declaração autorizando celebrações mais difundidas da antiga missa em latim, conforme reivindicavam católicos tradicionalistas.
5 de fevereiro de 2008: O papa altera uma oração em latim usada por tradicionalistas em celebrações da Sexta-Feira da Paixão, eliminando uma alusão aos judeus e à sua "cegueira", mas mantendo o apelo para que eles aceitem Jesus.
15 a 20 de abril de 2008: Faz sua primeira visita aos Estados Unidos, onde encontra vítimas de abuso sexual por membros da Igreja Católica. Realiza missa no Marco Zero, local onde ficava o World Trade Center, destruído pelos ataques de 11 de Setembro.
24 de janeiro de 2009: O papa causa polêmica entre judeus ao revogar a excomunhão de quatro bispos ultratradicionalistas, incluindo um que negava o Holocausto.
17 a 23 de março de 2009: Em visita a Camarões e Angola, condena o uso de preservativos e diz que a distribuição “não resolve o problema da Aids”.
11 de junho de 2010: Pela primeira vez de forma explícita, pede perdão público a Deus e às vítimas de padres pedófilos, prometendo que fará "tudo o que for possível para que abusos semelhantes jamais voltem a acontecer".
6 de novembro de 2010: O papa chega à Espanha para uma visita de dois dias. Ele ataca o aborto e o casamento homossexual, recentemente legalizado no país, durante missa em que consagrou a célebre igreja barcelonesa da Sagrada Família. As declarações são parte de críticas mais amplas do pontífice ao "secularismo agressivo" da Espanha.
25 de julho de 2011: O Vaticano retira seu núncio apostólico (embaixador) da Irlanda, depois de uma inédita recriminação do Parlamento local à Santa Sé por causa de um relatório que acusava autoridades eclesiásticas de acobertarem abusos sexuais.
6 de janeiro de 2012: Bento 16 nomeia 22 novos cardeais, aumentando as chances de que seu sucessor seja um conservador europeu.
AP
Papa Bento 16 aperta tela de tablet no Twitter para enviar seu primeiro tweet
9 de janeiro de 2012: Em discurso a diplomatas de quase 180 países no Vaticano, sugere , sem falar diretamente em casamento gay ou homossexual, que as políticas que minam a família formada pela união entre um homem e uma mulher ameaçam o futuro da humanidade.
26 de março de 2012: Desembarca em Cuba, 14 anos após a viagem do papa João Paulo 2º, e encontra Fidel Castro .
15 de setembro de 2012: No segundo dia de uma visita ao Líbano, ofuscada pela guerra na vizinha Síria e protestos no mundo muçulmano, o papa afirma que a liberdade religiosa é um direito básico de todas as pessoas e diz que o país deveria ser modelo para o Oriente Médio .
6 de outubro de 2012: Um tribunal do Vaticano condena um ex-mordomo do papa a um ano e meio de prisão por seu apropriar de documentos sigilosos. Paolo Gabriele alega ter agido motivado por um amor "visceral" pela Igreja e pelo papa. Em dezembro, é perdoado.
12 de dezembro de 2012: Entra no Twitter por meio do perfil @pontifex.
11 de fevereiro de 2013: Anuncia sua renúncia e diz que deixará o cargo em 28 de fevereiro.

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