IGREJA DESFIGURADA
Foi o próprio papa Bento XVI quem
pronunciou a frase durante a homilia da missa na abertura do tempo da Quaresma,
frisando que há divisões no corpo eclesiástico da Igreja.
Durante o sermão o papa denunciou a
"hipocrisia religiosa, o comportamento dos que querem aparentar, as
atitudes que buscam os aplausos e a aprovação". Também deixou claro que
não sofreu pressão e que seu ato de
renunciar foi consciente e livre "pelo bem da Igreja".
Antes mesmo da formalização pública
da renúncia que se dará no próximo dia 28, a imprensa mundial especula sobre o
real motivo da decisão de Bento XVI. Além da saúde fragilizada revelada pelo
próprio papa, há fortes indícios de intrigas internas, corrupção e a prática da
pedofilia, apontada pela imprensa europeia como principal problema que mais
teria desgastado Bento XVI, sem falar no escândalo conhecido como
"Vitileaks", envolvendo documentos secretos que vazaram do Vaticano e
que revelam a existência de uma ampla rede de corrupção, nepotismo e
favoritismo.
Mesmo cercado de muito segredo e
mistério, as informações começam a desborcar, na medida em que a imprensa
começa a desvendar o que há de verdade em toda essa história. Por exemplo, o
cardeal Tarcisio Bertone,78, homem de confiança de Bento XVI, secretário de
Estado do Vaticano, italiano, oriundo da congregação dos religiosos Salesianos
de Dom Bosco, estaria envolvido em uma série de denúncias que atingiram o
Vaticano nos últimos anos.
Mesmo acusado de corrupto, Bertone é apontado
como um dos nomes mais fortes para suceder do atual papa, mas seu nome divide
mais do que congrega.
Enquanto o Vaticano inicia as
preparações para o último dia do papa Bento XVI, fontes da Igreja disseram que
consultas formais ao telefone, em almoços e via correspondências começaram a ser feitas entre os cardeais sobre que tipo
de líder o próximo papa deve ser. Depois de uma série de escândalos, os
especialistas dizem que os cardeais da Igreja estão buscando alguém que não
seja apenas um homem santo, mas também um bom administrador. Porém, o ponto fraco de Bertoni é justamente
a administração. Ele é visto como um mau gestor e também um diplomata confuso.
Em 2009, uma delegação de cardeais chegou a pedir ao papa para substituí-lo.
Outro problema é que apesar de Bertone ser italiano, ele sempre preferiu nomear
para posições-chaves seus colegas membros da ordem salesiana. O
episódio que ficou conhecido como “Vatileaks”, sobre o vazamento de documentos
confidenciais do Vaticano, comprometeu seriamente Bertone. Em janeiro do ano
passado, foram reveladas duas cartas do arcebispo Carlo Maria Viganò
endereçadas ao papa. As cartas tinham queixas da corrupção no alto escalão do
Vaticano. A acusação dava a entender que Bertone, se não era um dos
corrompidos, teria pelo menos fechado os olhos para diversos fatos graves.
Viganò foi vice-governador do Vaticano entre 2009 e 2011 e tentou acabar com a
corrupção, o nepotismo e com os contratos com preços inflacionados. Porém,
quando levou os fatos ao conhecimento de Bento XVI, foi afastado e transferido
para um posto nos Estados Unidos.
Outro afastado foi o economista e
presidente do Banco do Vaticano Ettore Tedeschi. Membro importante da ordem
ultraconservadora Opus Dei, ele assumiu em 2009 o Instituto para Obras
Religiosas (nome oficial do Banco do Vaticano) com a missão de tornar
transparentes os seus demonstrativos – exigência de instituições financeiras
internacionais – de modo a evitar a lavagem de dinheiro. O economista foi
demitido sumariamente em maio, um dia depois da detenção de Paolo Gabriele,
mordomo do papa, e apontado como um dos responsáveis pelo vazamento de
documentos confidenciais da Santa Sé.
Bertone, portanto, apontado como
diretamente responsável pelos dois afastamentos, minimizou os escândalos,
insistindo que são apenas o resultado de jornalistas "fingindo ser Dan
Brown", uma referência ao livro Código Da Vinci. O cardeal também,
enigmaticamente, culpou o "diabo". O poder de Bertone, entretanto,
está relacionado a sua ligação com o papa Bento XVI. Quando o então cardeal
Joseph Ratzinger comandava a Congregação para a Doutrina da Fé, Bertone foi o
número 2 da organização, se aproximou do papa e conquistou o atual cargo, mesmo
sem experiência diplomática.
Além de controlar a máquina
administrativa da Igreja, Bertone é um dos homens mais importantes do Vaticano
no que diz respeito ao esporte. Em 2003, um ano depois de chegar a Gênova como
arcebispo, tornou-se cardeal e criou a Copa Clerical, torneio disputado apenas
por religiosos. Sempre teve o desejo de montar uma equipe que tivesse condições
de disputar uma Copa do Mundo, com representação na Fifa.
O plano de Bertone era a criação de uma equipe que participasse do Campeonato Italiano e, ao mesmo tempo, vestisse um uniforme amarelo para participar das Eliminatórias. “Eu não excluo a possibilidade de que o Vaticano, no futuro, possa montar um time de futebol de grande valor, que poderia jogar na primeira divisão, ao lado de Roma, Internazionale, Genova e Sampdoria”, disse à época da criação do torneio. “Podemos recrutar seminaristas. Lembro que 42 jogadores que disputaram a Copa do Mundo de 1990 passaram pelos centros de treinamento salesianos. Se pegarmos apenas os estudantes brasileiros das universidades pontifícias, podemos ter uma equipe magnífica”, argumentou o poderoso cardeal.
O futebol o aproximou da população local a tal ponto que ele se tornou comentarista de um canal de televisão de Gênova. Trabalhava em jogos dos dois times da cidade – Gênova e Sampdoria – e era considerado totalmente imparcial. Bertone fez parte de um acordo que possibilitou a mudança do horário das missas para não coincidir com os dos jogos, pois a concorrência do italiano era entre a igreja e o estádio. Os planos de um time para representar o Vaticano não foram adiante, mas em parte ele conseguiu colocar em prática sua ideia, ao montar uma equipe amadora, que ainda hoje disputa jogos em várias cidades italianas.
O plano de Bertone era a criação de uma equipe que participasse do Campeonato Italiano e, ao mesmo tempo, vestisse um uniforme amarelo para participar das Eliminatórias. “Eu não excluo a possibilidade de que o Vaticano, no futuro, possa montar um time de futebol de grande valor, que poderia jogar na primeira divisão, ao lado de Roma, Internazionale, Genova e Sampdoria”, disse à época da criação do torneio. “Podemos recrutar seminaristas. Lembro que 42 jogadores que disputaram a Copa do Mundo de 1990 passaram pelos centros de treinamento salesianos. Se pegarmos apenas os estudantes brasileiros das universidades pontifícias, podemos ter uma equipe magnífica”, argumentou o poderoso cardeal.
O futebol o aproximou da população local a tal ponto que ele se tornou comentarista de um canal de televisão de Gênova. Trabalhava em jogos dos dois times da cidade – Gênova e Sampdoria – e era considerado totalmente imparcial. Bertone fez parte de um acordo que possibilitou a mudança do horário das missas para não coincidir com os dos jogos, pois a concorrência do italiano era entre a igreja e o estádio. Os planos de um time para representar o Vaticano não foram adiante, mas em parte ele conseguiu colocar em prática sua ideia, ao montar uma equipe amadora, que ainda hoje disputa jogos em várias cidades italianas.
O papa
Bento 16 manifestou nesta quarta-feira total apoio a seu vice, cardeal Tarcisio
Bertone, o alvo principal dos documentos vazados que o mordomo do pontífice foi
acusado de ter roubado.
O
Vaticano divulgou uma carta de Bento 16 para Bertone, seu secretário de Estado
ou primeiro-ministro, na qual ele disse: "Desejo expressar o meu profundo
agradecimento por seu apoio discreto e seu conselho iluminado que considerei
uma ajuda especial no últimos meses."
O papa,
que enviou a carta antes de ir para seu retiro de verão no Castel Gandolfo, nas
colinas Alban fora de Roma, acrescentou: "Tendo tomado conhecimento, com
tristeza, das críticas injustas levantadas contra você, quero renovar a
expressão da minha fé pessoal em você... que permanece constante."
A prisão
de Gabriele foi o clímax de dez dias terríveis para o papa em maio, durante os
quais o chefe do banco do Vaticano também foi demitido e um novo livro alegou
nepotismo e corrupção numa Santa Sé dilacerada pelo conflito entre cardeais.
O
porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, disse na terça-feira que os 50
dias permitidos para a detenção inicial de Gabriele expirariam em breve e,
então, as autoridades teriam de decidir se querem libertar o mordomo ou
enviá-lo para julgamento.
A polícia
do Vaticano e uma comissão especial de cardeais vêm procurando outros
informantes desde a prisão de Gabriele, com muitos membros da Igreja
acreditando que o mordomo poderia ter sido apenas um bode expiatório em uma
disputa mais ampla e mais sinistra.
Mas
Gabriele até agora continua a ser a única pessoa sob investigação, disse
Lombardi. A comissão de três cardeais interrogou 28 pessoas.
Especialistas
sobre o Vaticano afirmam que os vazamentos, que envolveram detalhes embaraçosos
sobre oficiais que Bertone nomeou ou demitiu e projetos que ele promoveu,
sugeriram um esforço combinado para forçá-lo a deixar o cargo.
Os
observadores da Igreja sugerem que uma "ala diplomática" rival,
incluindo o predecessor de Bertone, o cardeal Angelo Sodano, estava envolvida
na conspiração contra o secretário de Estado.
Bertone é
teólogo e especialista em direito canônico, em contraste com a escolha normal
de um diplomata experiente para o trabalho. Ele tem sido impopular em alguns
setores por ser visto como alguém com estilo autoritário e por sua proximidade
com políticos italianos.
Bento 16
confia em seu secretário de Estado para executar o trabalho diário do Vaticano
e suas embaixadas no exterior, enquanto ele dedica boa parte de seu tempo a
questões doutrinárias e escreve um estudo de três livros sobre Jesus Cristo.
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