CIDADÃ DO MUNDO
Entre as mulheres brasileiras que merecem
citação e aplausos permanentes, Aracy Guimarães Rosa é uma delas. Pouca gente
conhece o papel que essa mulher extraordinária prestou ao Brasil, e,
principalmente, para os estrangeiros, no caso os judeus.
Ela nasceu em Rio Negro, Paraná, no dia 5 de
dezembro de 1908 e faleceu com 102 anos de idade. Foi uma poliglota brasileira
que prestou serviços ao Itamaraty, tornando-se a segunda esposa do escritor
João Guimarães Rosa, um dos mais importantes escritores
brasileiros de todos os tempos. Foi também médico e diplomata. Os contos e
romances escritos por Guimarães Rosa ambientam-se quase todos no chamado sertão
brasileiro. Aracy também é conhecida por ter seu nome
escrito no Jardim dos Justos entre as Nações, no Museu do Holocausto (Yad
Washem)), em Israel, por ter ajudado muitos judeus a entrarem ilegalmente no
Brasil durante o governo de Getúlio Vrgas. A homenagem foi prestada em 8 de
julho de 1982. Ela é uma das pessoas homenageadas também no Museu do Holocausto
de Washington (EUA). Ainda criança foi morar com os pais em São Paulo. Em 1930,
casou com o alemão Johan von Tess, com quem teve o filho Eduardo Carvalho Tess,
mas cinco anos depois se separou, indo morar com uma irmã de sua mãe na Alemanha.
Por falar quatro línguas (português, inglês, francês e alemão), conseguiu uma
nomeação no consulado brasileiro em Hamburgo, onde passou a ser chefe da Secção
de Passaportes.
No ano de 1938, entrou em vigor, no Brasil, a
Circular Secreta, que restringia a entrada de judeus no país. Aracy ignorou a
circular e continuou preparando vistos para judeus, permitindo sua entrada no
Brasil. Como despachava com o cônsul geral, ela colocava os vistos entre a
papelada para as assinaturas. Para obter a aprovação dos vistos, Aracy
simplesmente deixava de pôr neles a letra J, que identificava quem era judeu. Nessa
época, João Guimarães Rosa era cônsul
adjunto (ainda não eram casados). Ele soube do que ela fazia e apoiou sua
atitude, com o que Aracy intensificou aquele trabalho, livrando muitos judeus
da prisão e da morte. Aracy permaneceu na Alemanha até 1942, quando o governo
brasileiro rompeu relações diplomáticas com aquele país e passou a apoiar os Aliados.
Seu retorno ao Brasil, porém, não foi tranquilo. Ela e Guimarães Rosa ficaram
quatro meses sob custódia do governo alemão, até serem trocados por diplomatas
alemães. Aracy e João Guimarães Rosa casaram-se, então, no México, por não
haver ainda, no Brasil, o divórcio. O livro de Guimarães Rosa "Grande Sertão
Veredas", de 1956, foi dedicado a Aracy.
Sua biografia inclui também ajuda a compositores
e intelectuais durante o regime militar implantado no Brasil em 1964, entre
eles Geraldo Vandré, de cuja tia Aracy era amiga. Aracy enviuvou no ano de 1967
e não se casou novamente. Sofria de Mal de Alzheimer e morreu no dia 3 de março
de 2011 em São Paulo, de causas naturais, aos 102 anos. Hoje, pouco se recorda desse passado, cheio de
coragem, aventura, determinação, romance, literatura e solidariedade. Mas a sua
história, os seus feitos merecem ser lidos por todos e ensinados nas
escolas.Nossas crianças, os cidadãos do Brasil necessitam de tais modelos para
os dias que vivemos. Aracy desafiou o nazismo, o estado novo de Getúlio Vargas
e a ditadura militar dos anos 60. Uma mulher que merece nossas homenagens. Uma brasileira
de valor. Uma verdadeira cidadã do mundo.
No Dia 8 de março por decreto da
Organização das Nações Unidas - ONU comemora-se o Dia Internacional da Mulher.
Esta data é especialmente propícia para
lembrarmos de nossas heroínas brasileiras, além de Aracy Guimarães Rosa,
lembramos Joana Angélica - enfrentou os soldados portugueses durante a
independência do Brasil. Maria Quitéria - lutou contra os colonizadores
portugueses durante a independência do Brasil. Bárbara Heliodora - a
"mulher do novo mundo" que lutou contra a injustiça e Anita Garibaldi
- lutou na Revolução Farroupilha e pela unificação e libertação da Itália.
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