terça-feira, 26 de fevereiro de 2013


CIDADÃ DO MUNDO

Entre as mulheres brasileiras que merecem citação e aplausos permanentes, Aracy Guimarães Rosa é uma delas. Pouca gente conhece o papel que essa mulher extraordinária prestou ao Brasil, e, principalmente, para os estrangeiros, no caso os judeus.

Ela nasceu em Rio Negro, Paraná, no dia 5 de dezembro de 1908 e faleceu com 102 anos de idade. Foi uma poliglota brasileira que prestou serviços ao Itamaraty, tornando-se a segunda esposa do escritor João Guimarães Rosa, um dos mais importantes escritores brasileiros de todos os tempos. Foi também médico e diplomata. Os contos e romances escritos por Guimarães Rosa ambientam-se quase todos no chamado sertão brasileiro.  Aracy também é conhecida por ter seu nome escrito no Jardim dos Justos entre as Nações, no Museu do Holocausto (Yad Washem)), em Israel, por ter ajudado muitos judeus a entrarem ilegalmente no Brasil durante o governo de Getúlio Vrgas. A homenagem foi prestada em 8 de julho de 1982. Ela é uma das pessoas homenageadas também no Museu do Holocausto de Washington (EUA). Ainda criança foi morar com os pais em São Paulo. Em 1930, casou com o alemão Johan von Tess, com quem teve o filho Eduardo Carvalho Tess, mas cinco anos depois se separou, indo morar com uma irmã de sua mãe na Alemanha. Por falar quatro línguas (português, inglês, francês e alemão), conseguiu uma nomeação no consulado brasileiro em Hamburgo, onde passou a ser chefe da Secção de Passaportes.

No ano de 1938, entrou em vigor, no Brasil, a Circular Secreta, que restringia a entrada de judeus no país. Aracy ignorou a circular e continuou preparando vistos para judeus, permitindo sua entrada no Brasil. Como despachava com o cônsul geral, ela colocava os vistos entre a papelada para as assinaturas. Para obter a aprovação dos vistos, Aracy simplesmente deixava de pôr neles a letra J, que identificava quem era judeu. Nessa época, João Guimarães  Rosa era cônsul adjunto (ainda não eram casados). Ele soube do que ela fazia e apoiou sua atitude, com o que Aracy intensificou aquele trabalho, livrando muitos judeus da prisão e da morte. Aracy permaneceu na Alemanha até 1942, quando o governo brasileiro rompeu relações diplomáticas com aquele país e passou a apoiar os Aliados. Seu retorno ao Brasil, porém, não foi tranquilo. Ela e Guimarães Rosa ficaram quatro meses sob custódia do governo alemão, até serem trocados por diplomatas alemães. Aracy e João Guimarães Rosa casaram-se, então, no México, por não haver ainda, no Brasil, o divórcio. O livro de Guimarães Rosa "Grande Sertão Veredas", de 1956, foi dedicado a Aracy.

Sua biografia inclui também ajuda a compositores e intelectuais durante o regime militar implantado no Brasil em 1964, entre eles Geraldo Vandré, de cuja tia Aracy era amiga. Aracy enviuvou no ano de 1967 e não se casou novamente. Sofria de Mal de Alzheimer e morreu no dia 3 de março de 2011 em São Paulo, de causas naturais, aos 102 anos. Hoje,  pouco se recorda desse passado, cheio de coragem, aventura, determinação, romance, literatura e solidariedade. Mas a sua história, os seus feitos merecem ser lidos por todos e ensinados nas escolas.Nossas crianças, os cidadãos do Brasil necessitam de tais modelos para os dias que vivemos. Aracy desafiou o nazismo, o estado novo de Getúlio Vargas e a ditadura militar dos anos 60. Uma mulher que merece nossas homenagens. Uma brasileira de valor. Uma verdadeira cidadã do mundo.

No Dia 8 de março por decreto da Organização das Nações Unidas - ONU comemora-se o Dia Internacional da Mulher.

Esta data é especialmente propícia para lembrarmos de nossas heroínas brasileiras, além de Aracy Guimarães Rosa, lembramos Joana Angélica - enfrentou os soldados portugueses durante a independência do Brasil. Maria Quitéria - lutou contra os colonizadores portugueses durante a independência do Brasil. Bárbara Heliodora - a "mulher do novo mundo" que lutou contra a injustiça e Anita Garibaldi - lutou na Revolução Farroupilha e pela unificação e libertação da Itália. 

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