Baseado no que ensina o nosso dicionário
português, a palavra saudade significa recordação nostálgica e suave de pessoas
ou coisas distantes, ou de coisas passadas. Lembranças, recordações afetuosas de
alguém ausente.
É assim que me sinto hoje. Quando me
lembro da casa onde vivi; a Praça Daltro Filho onde brinquei e que me acolheu
durante tantos anos ma minha adolescência; dos amigos da vizinhança; do colégio
São José, minha primeira escola, e dos meus pais que já partiram sinto
saudades.
Bons tempos aqueles que não retornam
mais!
Hoje aos meus 77 anos regularmente bem
vividos, embora alguns pensem que esteja na faixa dos descartáveis sinto-me, ao
contrário, muito jovem e pensando ambiciosamente num futuro cada vez melhor.
Quando olho para o lado e vejo tantos
moços e moças entregando suas vidas ao vício lembro: que desgraça, que falta de
amor a vida! Quantos existem clamando para continuar vivendo e outros se
matando.
No meu tempo de adolescente só eram
considerados droga o cigarro e o álcool. Até mesmo o lança-perfume que se usava
nos carnavais como um acessório a mais, juntamente com o confete e a
serpentina, era permitido.
Mas, o que mais sinto saudades é da
orquestra e conjunto musical de Osvaldo Engel. Quem viveu a década de 50, deve
lembrar. Uma pena que Osvaldinho tenha nos deixado tão cedo, com pouco mais de
50 anos de idade, vítima de enfarte. Era hipertenso e se cuidava pouco.
Quantos bailes, serenatas e reuniões
dançantes tocamos juntos! Bailes de debutantes e reuniões dançantes no C.E.R.
Atlântico e Clube do Comércio, sua orquestra era sempre requisitada. Eu era
responsável, juntamente com o baterista Dorival da Cunha Antunes (falecido),
pelo ritmo com meu pandeiro, triângulo, agê e contrabaixo. Ah, que saudades!
Das dez, ou doze figuras que compunham a
orquestra e conjunto de ritmos de Osvaldinho só restam ainda vivos quatro integrantes:
o violinista Paulo Kameneff, professor da nossa Escola de Belas Artes já com
seus mais de 80 anos, Renato Mársico (crooner), eu, e meu substituto depois que
deixei da orquestra, o Panelinha.
Quando ouço hoje o maestro e pianista
Eduardo Lage, da orquestra de Roberto Carlos, me vem a lembrança a figura
exímia de Osvaldo Engel. Não havia música que não executasse, por mais difícil
que fosse desde a clássica até o popular. A "Dança Ritual do Fogo",
uma melodia dificílima de tocar no piano, ele executava com uma perfeição e vibração impressionantes.
Para a atual geração que obviamente não
conheceu Osvaldinho diria que foi um músico dotado de extraordinária delgadeza
musical. Ainda não nasceu outro igual.
Fazendo uma paráfrase da música do Rei
Roberto Carlos, diria que é por isto que "vivo este momento lindo. Olhando
para o passado e as mesmas emoções sentindo, e tantas já vividas, momentos que
não esqueci quantas vezes eu chorei sorrindo”.
A máxima que diz: recordar é viver é
verdadeira. Não há melhor remédio para qualquer mal da nossa existência senão a
recordação.
Se houvesse a possibilidade de voltar
atrás no tempo, gostaria de passar tudo de novo. Jogar bola na Praça Daltro
Filho, andar de carrinho de lomba na Rua
Itararé, soltar pandorga (pipa), colecionar caixas de fósforos e vender
amendoim torrado nos Circos para ganhar o ingresso.
Infelizmente a Praça não é mais aquela
de antigamente, também se modificou. O local que foi de lazer na minha infância
e de tantos outros, é hoje o lugar preferido para os drogados e traficantes. É
lacrimável vê-la assim.
Por isso eu canto: Saudades eu tenho, da
minha praça querida, tão longe de mim ficou, ai coitadinha.
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