Os médicos que são contra a vinda de colegas estrangeiros para ajudar na
saúde de 11 milhões de brasileiros, que me perdoem, mas estão agindo exatamente
como aqueles que saem ás ruas para protestar e praticam vandalismo. O que o
Sindicato dos Médicos do Ceará fez nesta última terça-feira, foi demais. Não se
discute a nacionalidade, o sistema de governo a que pertençam, o certo é que
são médicos que vão aonde os médicos brasileiros não vão, ou não querem ir. Eles
não vêm para tirar lugar de ninguém.
O que fez o Sindicato dos Médicos do Ceará por mais que queiram explicar
não se justifica. Foi um ato destemperado e hostil dirigido a quem nenhuma culpa
tem (se é que tem) por vir ajudar cuidar da saúde de milhares de brasileiros
que estão morrendo e sendo empilhados nos hospitais, exatamente por falta de
médicos. Os protestos dos descontentes devem ser dirigidos ao Governo que os
contratou e não aos contratados.
“Gostei da resposta dada por um médico cubano vaiado por um grupo de
brasileiros em Fortaleza, Juan Delgado. Disse que
não entende as razões da hostilidade. "Vamos ocupar lugares aonde eles não
vão, afirmou”. Impressionou-me a manifestação. Diziam que somos escravos, que
fôssemos embora do Brasil. Não sei por que diziam isso, não vamos tirar seus
postos de trabalho”, disse ele. O médico que trabalhou no Haiti salientou que "isso
não é certo, não somos escravos. Seremos escravos da saúde, dos pacientes
doentes, de quem estaremos ao lado todo o tempo necessário". "Os
médicos brasileiros deveriam fazer o mesmo que nós: ir aos lugares mais pobres
prestar assistência".
"O
trabalho vai ser difícil porque vamos a lugares onde nunca esteve um médico e a
população vai precisar muito de nossa ajuda", completou.
Ele afirmou
ainda que o desconhecimento da língua portuguesa não será um empecilho e que a
população brasileira "aceitará muito bem os cubanos".
"Nenhum
de nós vai voltar a Cuba. Estamos com vontade de começar logo a trabalhar e
atender a população."
Depois da inoportuna
manifestação, o Ministério da Saúde e entidades de saúde do Ceará fizeram um
desagravo aos médicos estrangeiros e classificaram de "intolerância,
racismo e xenofobia" o protesto do Simec.
Horas
depois, o presidente do sindicato, José Maria Pontes, disse que as vaias não
foram dirigidas aos cubanos, mas aos gestores do curso. "E quando os
manifestantes gritaram 'escravo, escravo, escravo', não foi no sentido
pejorativo. Foi no sentido de defesa, de que eles estão submetidos a trabalho
escravo e que estamos lutando para mudar aquele vínculo."
Esse corporativismo
tem que acabar, assim como já se aquietaram outras categorias que sempre
pintavam e bordavam neste país.
Teve médico
que chegou a dizer, para menosprezar os cubanos, que eles seriam como se fossem
enfermeiros padrão no Brasil.
Outro
afirmou: “se eles são tão bons assim, por que deixaram morrer o presidente Chaves?
É o mesmo
que perguntar: se a medicina no Brasil é melhor ou mais adiantada que a de
Cuba, por que deixaram morrer o presidente Tancredo Neves, Ebe Camargo e tantas
outras personalidades importantes da vida brasileira?
Não é por
aí. Mesmo porque os médicos estrangeiros terão áreas de atendimento definidas,
não podem ter consultórios, portanto não vêm tirar lugar de ninguém, ou melhor,
não vêm diminuir o faturamento de seus colegas brasileiros.
Milhões de
pessoas que moram nessas cidades não querem saber se o médico é baiano, suíço ou
cubano. Querem médicos e medicina e dizem que um médico é melhor que nenhum. O
resto, bem, o resto é o argumento de cada um de nós como enxergamos a vida.
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