Cada vez que vou a Erechim, e faço o
trajeto Porto Alegre a capital do Alto Uruguai uma vez a cada mês, muitas
novidades acontecem. Umas interessantes, outras não tão interessantes. Eu diria
tristes. Este ano que já está se expirando, já escrevi nesta coluna sobre a
perda de vários amigos que deixaram o nosso convívio, para seguir a trajetória
que faz parte do plano de Deus. No primeiro contato com a cidade logo a notícia
ruim: a morte de Léo Passuello e Dary Ivo Schaeffer. O primeiro descendente de
tradicional família, herdeiro de seus pais do ramo funerário e o segundo,
conhecido radialista e tradicionalista, fundador de CTG. Ele já estava
aposentado e residia no litoral de Santa Catarina. O Dary, foi mais um entre
vários radialistas polivalentes que deixou seu nome escrito no livro dos bons
profissionais da categoria. Lembro as nossas jornadas esportivas como repórter,
comentarista, apresentador de programas e outras atividades afins. Por mais que
não queiramos aceitar a perda de um amigo ou familiar, não Tem como. O salário
que todos nós ganhamos por passar por esta vida é a morte. Parece paradoxal,
mas não é. Reflita comigo.
A morte nos coloca diante da mais
simples verdade, única certeza absoluta que nem mesmo o cético mais obstinado
pode duvidar. A dor que nos dilacera nestes momentos não cabe em palavras. Só
nos resta senti-la, suportá-la e manifestá-la. O que dizer quando se perde alguém
que se quer bem, que se ama? Como confortar aos que ficam diante do falecimento
do pai ou da mãe, do filho, da filha? O que falar aos que choram pela morte dos
entes mais queridos?
Não é fácil. Por mais sincero que seja o
que proferimos em tais circunstâncias, não é suficiente para aliviar a dor. A
morte também é elucidativa. Ela ensina, mostra o quanto somos frágeis e
explicita a efemeridade da vida. Por isso, não podemos confiar no amanhã, pois
nada nos garante que estaremos vivos. Precisamos acreditar que outro dia virá,
que estaremos entre os nossos e eles estarão conosco, quando Jesus voltar. Isto
está escrito, é promessa. Talvez por isso tenhamos tantas dificuldades em
pensar sobre a morte. Muitas vezes este é um assunto interdito, um tabu. Refletir
sobre a morte é, entre outros aspectos, reconhecer o quanto é risível a nossa
presunção. Somos natureza, mas arrogantemente almejamos a eternidade. Ao
vivermos como se eternos fossemos não percebemos o tempo precioso que se esvai
a cada segundo. As coisas mais simples da vida, os detalhes que nos realizam em
toda a plenitude do nosso ser são, muitas vezes, relegados a plano secundário. E
assim esgotamos o tempo que temos com o supérfluo, a mesquinhez e a arrogância.
Será que fazemos jus ao exíguo tempo que nos é oferecido a cada dia? Muitas
vezes o que parece importante não é o essencial. O poeta Horácio aconselhava:
Carpe diem quam minimum credula postero (Colhe o dia, confia o mínimo no
amanhã). Devemos valorizar cada segundo como se fosse o último. O amanhã é um
tempo que não nos pertence, mas como viver sem olhar para o passado e sem a
esperança no futuro? Se podemos sonhar e imaginar o amanhã, como restringir-se
ao presente? O escapismo pode se revelar ineficaz. Somos racionais, mas também
seres de emoções e sentimentos. Como escreve Milan Kundera: “Penso, logo existo
é um afirmação de um intelectual que subestima as dores de dente. Sinto, logo
existo é uma verdade de alcance muito mais amplo e que concerne a todo o ser
vivo”.
Ele se refere à dor física, mas também
há a aflição pela perda do ser amado. Então, o “eu” dilacera-se e o sofrimento
acentua dolorosamente a existência. O “eu” dilacerado deixa de ser pleno. É um
“eu” partido, pois parte de mim extingui-se com o “outro” que se foi. A perda de
quem amamos esfacela o “eu”. De certa forma, morremos também. Porém, permanece
a possibilidade de reincorporar. A memória do “outro” vive em mim, e se o sinto
presente encontro forças para suportar a dor. Não esquecê-lo é evitar a sua
segunda morte. Sofrer é próprio do humano, mesmo assim é preciso perseverar. A
vida continua e nos desafia a vivê-la plenamente e merecê-la.
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