segunda-feira, 24 de dezembro de 2012


TRISTE NATAL

Recebi uma carta que me comoveu a medida  em que ia lendo seu conteúdo. Era de um leitor que contava sua triste história vivida na noite de Natal há 70 anos passados . A gente acha que todos são felizes no Natal, mas não é verdade. Aliás, era para ser uma noite de luz, de alegria, felicidade, união, família reunida. Mas, para este missivista, não!

Vou deixar que ele mesmo conte a sua frustração e  a sua tristeza quando chega a noite de Natal.

"Tinha eu seis anos de idade. Minha saudosa mãe, sempre ao se aproximar o Natal, com esmero e prazer, enfeitava a sala da nossa casa com o tradicional pinheirinho adornado com  dezenas de bolas coloridas. Ao pé da árvore, muito musgo, o presépio com o Menino Jesus, Maria, José e algumas vaquinhas, tudo em gesso.

Naquele tempo não havia os efeites eletrônicos, luzes multicores, pisca-pisca etc. Eu lembro que para completar a ornamentação do pinheirinho, íamos caçar vagalumes para colocá-los na árvore. As noites, como hoje, eram quentes e os vagalumes coloriam com seu pisca-pisca a praça em frente a nossa casa, portanto era fácil apanhá-los.

Ainda debaixo do pinheirinho, mamãe usava um espelho para representar um lago e os caminhos eram feitos com areia. Por esses caminhos andavam os três Reis Magos . Seus nomes seriam Melchior, rei da Pérsia; Gaspar, rei da Índia, e Baltazar, rei da Arábia, os Santos Reis, porque são considerados bem-aventurados. Eles ganharam estas denominações cerca de oitocentos anos após o nascimento do Messias.

A cada dia, a partir do Natal, até a festa dedicada a eles 5 de janeiro,  dia em que são desarmados os presépios e, por conseguinte, são retirados todos os enfeites natalícios, todas as manhãs mamãe apanhava-os e avançava com eles até chegar próximo ao estábulo encerrando a comemoração natalícia de Jesus.

Até então, tradicionalmente, era assim comemorado o Natal em nossa casa.

Esqueci de dizer que meu pai era alcoólatra. E por causa da bebida sofríamos todos nós. Nunca antes ele havia se invocado com a árvore de Natal. Pois nessa noite meu pai tomado pela bebida e  com aversão e odiosidade, joga pela janela o enfeitado pinheirinho. Desse dia em diante nunca mais teve árvore de Natal em minha casa. Foi o Natal mais triste de minha vida. Por isso, quando se aproximam as comemorações natalinas em vez de me alegrar como milhões de pessoas que se abraçam, trocam presentes, desejam uns aos outros felicidades, cantam e reverenciam o nascimento do Menino Jesus, eu me recolho (rezo sim) mas não comemoro.

O Natal pra mim é a lembrança triste de uma criança frustrada por ver a sua árvore cheia de sonhos e ilusões jogada pela janela. Mesmo que quisesse esquecer a cena profundamente desagradável, repulsiva, de horror grandioso, não consigo. Ela me marcou profundamente.

Miguel de Cervantes Saavedra , romancista, draumaturgo e poeta castelhano, autor de Dom Quixote,  um clássico da literatura ocidental, sobre a tristeza disse:

"As tristezas não foram feitas para os animais, mas para os homens; se os homens as sentem muito, tornam-se animais." Por isto, ás vezes eu me torno um animal".

É... nem todos, realmente, são felizes na noite de Natal!

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