Augusto Nunes
O MAIS IMPORTANTE JULGAMENTO DA HISTÓRIA CHEGOU AO FIM COM O TRIUNFO DOS BRASILEIROS DECENTES
Talvez por terem sofrido derrotas demais, os
brasileiros decentes parecem incapazes de enxergar uma vitória. E
que vitória: nesta segunda-feira, o desfecho do mais importante
julgamento da história do Supremo Tribunal Federal oficializou o
triunfo do país que presta sobre a corrupção em geral e, em
particular, a quadrilha que tentou tomar de assalto as instituições
democráticas e ferir de morte o Estado de Direito. Os vilões estão
atarantados com o fracasso retumbante. Os vencedores não estão
comemorando como deveriam o final feliz do filme que começou há
sete anos.
Se entendessem claramente o que acabou de
acontecer, incontáveis homens de bem estariam nas ruas, decidindo
com a torcida do Corinthians o campeonato das multidões. A temporada
na cadeia imposta a figurões do governo Lula vale mais que o gol de Paolo Guerrero. As multas
impostas a banqueiros larápios são mais relevantes que as defesas
de Cássio. Em contraste com a justa euforia dos corintianos, a
inibição dos democratas atesta que o ceticismo epidêmico deixou
sequelas. A maioria parece ainda duvidar da vitória sobre os
fora-da-lei.
O mensalão não será julgado, acreditaram até
julho deste ano milhões de brasileiros minados pela desesperança.
Ninguém será condenado, imaginaram quando foi afinal marcada a data
para o início do julgamento. Os ministros punirão os alevinos para
poupar peixes graúdos, insistiram depois de confrontados com a
discurseira dos advogados de defesa. Só depois das primeiras
condenações a imensidão de descrentes admitiu que ainda existem
juízes no Brasil.
Existem e, ao menos por enquanto, são
majoritários no STF. O acórdão que resume o julgamento estará
pronto até março. Assim que for publicado, Altos Companheiros
contemplados pelo chefe com a licença para roubar vão saber como é
a vida na cadeia. E terão como vizinhos de cela banqueiros,
empresários e outros meliantes da primeira classe. Parece mentira.
Mas a verdade é que, a partir desta segunda-feira, nada será como
antes.
Deixaram de existir os condenados à perpétua
impunidade. A contratação de advogados que cobram em dólares por
hora já não garante a absolvição de delinquentes juramentados.
Expirou o prazo de validade dos salvo-condutos expedidos por Lula e
Dilma Rousseff para proteger pecadores. Todos agora sabem que
pesquisas de popularidade não conferem a nenhum governante o poder
de revogar o Código Penal. A lei finalmente vale para todos.
Os quadrilheiros teriam chegado lá se não
tropeçassem na resistência de jornalistas que não estão à venda,
na altivez do Ministério Público, na independência do Supremo e,
sobretudo, na indignação dos pagadores de impostos que sustentam a
farra criminosa. A reação das vítimas implodiu a falácia segundo
a qual os habitantes da terra de Macunaíma não dão maior
importância a roubalheiras ─ e engolem sem engasgos quaisquer
afrontas produzidas por corruptos.
Os fatos fulminaram a fantasia. Joaquim Barbosa
virou herói nacional. Ricardo Lewandowski é hostilizado em
restaurantes. Ayres Britto é aplaudido nas ruas. Dias Toffoli
prefere entrar no cinema com a sala já escura. A manchete do site de
VEJA é um perfeito resumo da ópera: “Termina o julgamento do
século. A corrupção perdeu”.
Nenhum país muda drasticamente da noite para o
dia. Mas o Brasil dormirá nesta noite diferente do que era quando
acordou. A cara ficou melhor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário