Deu no Congresso em Foco:
Governo discrimina
aposentados com verbas, diz PaimSobra dinheiro para empresários, mas falta para pensionistas, critica senador do PT. “Ministério da Fazenda faz terrorismo”, afirma ele, para quem deputados têm medo de votar o fim do fator previdenciário
“Estou coerente com meu partido de raiz e com o movimento social”
O governo da presidente Dilma Rousseff tem “certa discriminação” em relação a aposentados e pensionistas, porque dispõe de dinheiro para conceder redução de tributos a empresários com o caixa da Previdência, mas, ao mesmo tempo, alega não ter recursos para acabar com o fator previdenciário – fórmula matemática que reduz de 35% a 40% os benefícios do trabalhador. Um acordo feito na gestão do então presidente Lula não está sendo cumprido. E nesta semana, mais uma vez, os deputados até quiseram aprovar a medida, mas, pressionados pelo Palácio do Planalto, não tiveram “coragem” para contrariar o Executivo.
As
declarações não são de alguém da oposição, mas do senador Paulo Paim (PT-RS).
Em entrevista ao Congresso em Foco, ele disse que sua
“rebeldia” guarda coerência com as origens do partido, o maior do Congresso e
principal integrante da base aliada de Dilma. E se a presidente quiser vetar o
projeto em questão? “Que vete. É direito dela. Nosso papel é derrubar o veto”,
esclareceu o senador, em conversa com o site na quinta-feira (6) à
tarde, logo depois de voltar do velório do arquiteto Oscar Niemeyer,
no Palácio do Planalto.
Paim
lembra já ter conversado com Dilma uma vez sobre reajustes para os aposentados.
“Ela respondeu que era todo direito meu e disse para ver no que daria essa
caminhada”, contou. Ao que parece, de acordo com essa declaração, a presidente
tem dado mais ouvidos à equipe econômica. “O Ministério da Fazenda faz
terrorismo descabido em relação à Previdência, e demonstra que não tem
compromisso com os aposentados e pensionistas”, reclama o senador.
O que
mais intriga um dos maiores defensores dos aposentados no Congresso é a recente
desoneração da folha de pagamento das empresas de construção civil. Em vez de
contribuírem com o INSS à proporção de 20% dos salários dos trabalhadores, as
empreiteiras poderão pagar apenas um percentual de seu faturamento, o que
permite uma economia de tributos. Ou seja, o governo abre mão de receitas. “O
governo tem dinheiro para todas as áreas, só não tem para aposentados. Há uma
certa discriminação em relação à pessoa idosa. Só esses [trabalhadores] não têm
direito sequer a reajuste”, critica.
O senador
adiantou à reportagem que, para o próximo ano, quando as propostas de interesse
dos aposentados voltarem a ser discutidas, vai estimular mobilizações populares
com as centrais sindicais. Segundo Paim, só assim os deputados terão coragem de
enfrentar o governo, que pressiona para manter a redução condicionada no valor
dos benefícios.
As
propostas para os aposentados
Fim do fator: Projeto 296/03
Política de rejustes: PEC 22/07
Fim do fator: Projeto 296/03
Política de rejustes: PEC 22/07
Paim
destaca que sua postura não é politicamente suicida, a ponto de isolá-lo em seu
partido e em seu governo. Afirma ter um acordo feito com o então presidente
Lula para que fosse aprovada a chamada “Fórmula 85/95”, com o objetivo de
substituir o fator. O cálculo prevê que homens se aposentem quando a soma da
idade e do tempo de contribuição ao INSS chegar a 95 anos; já para as mulheres,
85 anos. “Se ele concordou e os deputados querem, por que não é votado? Estou
respaldado na posição do ex-presidente da República.”
Mesmo
após debater “exaustivamente” o problema, Paim disse desconhecer movimento da
base aliada, com a anuência de Dilma, para votar os projetos em 2014, em plena
campanha eleitoral. “Seria um gol de placa, e a presidenta faturaria um monte”,
avaliou o senador.
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