quinta-feira, 4 de agosto de 2011

GOVERNO DILMA SE LIVRA DE CPI
Por enquanto os desmandos ocorridos no Ministério dos Transportes, revelados pela revista Veja, não serão objeto de CPI, por que dois senadores na última hora recuaram e retiraram suas assinaturas no pedido de criação do grupo que investigaria por 180 dias (seis meses) os atos de corrupção no órgão federal.
Até a noite de terça-feira, a oposição havia coletado as 27 assinaturas. No apagar das luzes, porém, João Durval Carneiro (PDT-BA) e Ataídes Oliveira (PSDB-TO) pediram para sair. Depois foi a vez de Reditário Cassol (PP-RO). Ao ver a péssima repercussão de seu ato, Ataídes desistiu de retirar sua assinatura. Mas já era tarde. O prazo havia se esgotado e o presidente do Senado, José Sarney, malandro como sempre, derrubou o requerimento por falta de assinaturas. Os três parlamentares dificilmente admitiriam ter voltado atrás por medo das consequências de figurarem na lista de defensores de uma investigação contra o governo. No entanto, se fossem como Riobaldo, personagem de Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, poderiam dizer: “Medo não, perdi a vontade de ter coragem”.
João Durval foi governador da Bahia – indicado em 1983 pelo próprio Antonio Carlos Magalhães a sua sucessão - e deputado federal. Aos 82 anos é o nome de maior influência do PDT na Bahia, depois do ministro do Trabalho, Carlos Lupi. Seus filhos João Henrique Carneiro (PP) e Sérgio Barradas Carneiro (PT) seguem os passos do pai na política – o primeiro é prefeito de Salvador e o segundo, deputado federal.
Mas, mesmo com quase 60 anos de experiência como político, o senador ainda se permite cometer certos enganos. Segundo ele, a assinatura a favor da CPI foi consciente, mas depois perdeu a coragem ao pensar melhor, preocupado com o possível prejuízo às votações no Congresso neste segundo semestre. Traduzindo: se tivesse seu nome entre os apoiadores da comissão, correria o risco de ter algum de seus projetos de interesse boicotado.
O senador Reditario Cassol (PP-RO) foi o último a assinar o pedido para que a CPI fosse instalada, mas acabou voltando atrás
O senador Reditário Cassol (PP-RO), aos 75 anos, havia tido um rompante de cidadania ao apoiar uma CPI para apurar o escândalo já confirmado até pela presidente Dilma Rousseff. Mas, como pai dedicado que é ao filho Ivo Cassol (PP-RO), não só assumiu a vaga deixada pelo titular quando ele adoeceu, como se lembrou de adotar a posição que Ivo provavelmente tomaria, se estivesse no Senado. E, acima de sua coragem, veio a dedicação paterna.
Já Ataídes Oliveira chegou a relatar as motivações externas para a desistência. Ainda que seja do PSDB, ele é suplente desde maio e por isso foi pressionado pelo titular da vaga, João Ribeiro (PR-TO), a posicionar-se como governista. O PR, é bom lembrar, é o partido que está no centro do escândalo dos Transportes, legenda das estrelas do caso, como o ex-ministro Alfredo Nascimento e o deputado federal Valdemar da Costa Neto.
Nesta quarta-feira, porém, ao ver seu nome circulando como amarelão, Ataídes voltou atrás mais uma vez. A justificativa: ficou "atormentado" por ter quebrado um acordo com o titular em nome da ética. Pediu desculpas ao povo brasileiro pelo tropeço e disse preferir ficar de bem com a própria consciência que com João Ribeiro.
Antes não tivesse assinado a lista na primeira vez. Político de primeira viagem, o empresário provavelmente tinha achado que teria independência para tomar decisões no lugar do senador do PR. Só não sabia que, no Congresso Nacional, a vontade de ter coragem é impessoal e transferível. E da aparente coragem inicial, sobrou apenas a prova de que o tormento de amarelar é maior que o provocado pela omissão.

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