ERECHIM NA VEJA
Brasil
O pequeno grande herói
No acidente que matou 17 pessoas,
um menino de 14 anos morreu salvando
colegas do afogamento
Diogo Schelp
Lucas Vezzaro, de 14 anos, era conhecido pela boa vontade para
ajudar os outros. Na semana passada, em Erechim, no Rio Grande do Sul, o
menino morreu como herói. Na quarta-feira 22, um ônibus escolar que
transportava trinta crianças e adolescentes da zona rural para escolas na
cidade caiu em uma represa com quase 8 metros de profundidade. Dezesseis
estudantes e a funcionária de uma escola morreram no acidente. O motorista
perdeu a direção por razões não esclarecidas até o fim da semana. Logo que
o veículo caiu na água, de frente, muitas crianças começaram a sair pelas
janelas. Lucas, que viajava na parte traseira, estava entre os que primeiro
conseguiram atirar-se para fora. Bom nadador, começou a ajudar os colegas,
em vez de procurar a segurança da margem do lago.
Primeiro, agarrou e arrastou para a beirada da represa sua prima
Daiane Vezzaro e a amiga Márcia Bai. Em seguida, voltou até o ônibus,
àquela altura já completamente encoberto pela água. Dessa vez, conseguiu
salvar Angélica Mokfa, de 14 anos. "Eu não sei nadar e estava me
afogando", lembra a menina. "Quando vi o Lucas, agarrei na
jaqueta dele e ele conseguiu me puxar para cima, para que eu pudesse
respirar." Lucas a arrastou até a margem e nadou outra vez para o
ônibus, atrás de uma quarta colega. Dessa incursão não voltaria mais. A
garota e outras crianças que se debatiam embaixo d'água o agarraram,
puxaram-no para o fundo. Lucas morreu junto com elas. Seu corpo foi
resgatado minutos depois, pelo operador de máquinas Valdeci dos Santos, que
estava perto da barragem no momento do acidente. "Tentaram fazer
respiração boca-a-boca nele, mas não conseguiram salvá-lo", diz
Valdeci.
A tragédia aconteceu às 7 horas da manhã. A pouca distância, no
quilômetro 7 da mesma estrada, fica a casa onde vivia Lucas, no quintal da empresa
de erva-mate para a qual trabalham sua mãe, Cleci, e seu pai, Sérgio. O
caminhoneiro Sérgio preparava-se para iniciar mais uma viagem quando chegou
a notícia do acidente. "Lucas era um menino que nunca conseguiu ver
alguém em dificuldade sem oferecer ajuda", recorda a mãe. No ano
passado, quando o avô materno esteve doente, o menino varou dias no
hospital. Em casa, filho único, comportava-se de modo bem diferente do da
maioria dos garotos de sua idade. À tarde, depois de almoçar com a mãe, lavava
a louça, passava aspirador de pó na casa, varria o quintal, cuidava da
horta e fazia a lição de casa. Mesmo com tantos afazeres, ainda achava
tempo para o futebol com os amigos, para pequenas caçadas e para partidas
de bocha. Uma de suas maiores diversões era pescar e se orgulhava de nadar
bem. Estava na 8ª série e ainda não tinha definido o que estudaria mais
adiante.
O motorista do ônibus, Juliano dos Santos, disse à polícia que houve
uma falha mecânica. O tacógrafo do veículo mostra que ele estava acima da
velocidade admitida no local, uma estrada de terra, com muitos buracos,
estreita, margeada pela represa em ambos os lados. A pista estava enlameada
devido à chuva.
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