quarta-feira, 25 de setembro de 2013




ERECHIM NA VEJA

Brasil
O pequeno grande herói
No acidente que matou 17 pessoas,
um menino de 14 anos morreu salvando
colegas do afogamento

Diogo Schelp
Lucas Vezzaro, de 14 anos, era conhecido pela boa vontade para ajudar os outros. Na semana passada, em Erechim, no Rio Grande do Sul, o menino morreu como herói. Na quarta-feira 22, um ônibus escolar que transportava trinta crianças e adolescentes da zona rural para escolas na cidade caiu em uma represa com quase 8 metros de profundidade. Dezesseis estudantes e a funcionária de uma escola morreram no acidente. O motorista perdeu a direção por razões não esclarecidas até o fim da semana. Logo que o veículo caiu na água, de frente, muitas crianças começaram a sair pelas janelas. Lucas, que viajava na parte traseira, estava entre os que primeiro conseguiram atirar-se para fora. Bom nadador, começou a ajudar os colegas, em vez de procurar a segurança da margem do lago.
Primeiro, agarrou e arrastou para a beirada da represa sua prima Daiane Vezzaro e a amiga Márcia Bai. Em seguida, voltou até o ônibus, àquela altura já completamente encoberto pela água. Dessa vez, conseguiu salvar Angélica Mokfa, de 14 anos. "Eu não sei nadar e estava me afogando", lembra a menina. "Quando vi o Lucas, agarrei na jaqueta dele e ele conseguiu me puxar para cima, para que eu pudesse respirar." Lucas a arrastou até a margem e nadou outra vez para o ônibus, atrás de uma quarta colega. Dessa incursão não voltaria mais. A garota e outras crianças que se debatiam embaixo d'água o agarraram, puxaram-no para o fundo. Lucas morreu junto com elas. Seu corpo foi resgatado minutos depois, pelo operador de máquinas Valdeci dos Santos, que estava perto da barragem no momento do acidente. "Tentaram fazer respiração boca-a-boca nele, mas não conseguiram salvá-lo", diz Valdeci.
A tragédia aconteceu às 7 horas da manhã. A pouca distância, no quilômetro 7 da mesma estrada, fica a casa onde vivia Lucas, no quintal da empresa de erva-mate para a qual trabalham sua mãe, Cleci, e seu pai, Sérgio. O caminhoneiro Sérgio preparava-se para iniciar mais uma viagem quando chegou a notícia do acidente. "Lucas era um menino que nunca conseguiu ver alguém em dificuldade sem oferecer ajuda", recorda a mãe. No ano passado, quando o avô materno esteve doente, o menino varou dias no hospital. Em casa, filho único, comportava-se de modo bem diferente do da maioria dos garotos de sua idade. À tarde, depois de almoçar com a mãe, lavava a louça, passava aspirador de pó na casa, varria o quintal, cuidava da horta e fazia a lição de casa. Mesmo com tantos afazeres, ainda achava tempo para o futebol com os amigos, para pequenas caçadas e para partidas de bocha. Uma de suas maiores diversões era pescar e se orgulhava de nadar bem. Estava na 8ª série e ainda não tinha definido o que estudaria mais adiante.
O motorista do ônibus, Juliano dos Santos, disse à polícia que houve uma falha mecânica. O tacógrafo do veículo mostra que ele estava acima da velocidade admitida no local, uma estrada de terra, com muitos buracos, estreita, margeada pela represa em ambos os lados. A pista estava enlameada devido à chuva.
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