quarta-feira, 6 de junho de 2012

CRIME INSOLÚVEL
Segunda-feira, 4, marcou o 24º. aniversário da morte de José Antônio Daudt, jornalista e deputado estadual pelo PMDB, morto com dois tiros de espingarda de caça calibre 12, por volta das 22,30h de um sábado quando entrava no edifício em que morava, no bairro Moinhos de Vento em Porto Alegre. De lá para cá nunca se soube quem foi o autor do crime.
Eu estava na capital nesta época e acompanhei pela imprensa todo o noticiário do fato até o famoso julgamento do acusado também ex-deputado e amigo de Daudt, Antônio Dexheimer.
Muito se especulou como tendo sido crime passional, político e assalto. Mas nada ficou provado. Tanto que o Dr. Dexheimer que vive entre nós em Erechim, julgado pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, foi absolvido por 14 votos contra 7.
Um dos lances mais ousados do julgamento foi dado pelo advogado de defesa de Dexheimer, Oswaldo de Lia Pires que uma apresentação animada pelo sistema tridimensional feito por computador reproduzindo o ângulo de visão de uma das testemunhas, Lindóia Gonçalves, uma surda-muda, demonstrando uma ideia baseada nos tira-teimas utilizados pelas emissoras de televisão para esclarecer lances duvidosos nos jogos de futebol. Só esse material custou cerca de 900 mil cruzeiros (moeda da época). A testemunha da surda-muda era considerada chave no processo, segundo Lia Pires "arranjada" pela acusação.
O julgamento do século pelo Pleno do Tribunal da Justiça, como chegou a ser denominado, durou três dias e foi transmitido pela TV-Guaiba. Da composição do Pleno, 14 desembargadores votaram pela absolvição e 7 pela condenação. Nove juízes fundamentaram seus votos no artigo 386 do Código de Processo Penal, ou seja, insuficiência de provas. Os outros cinco absolveram o réu, negando-lhe a autoria do crime.
Como jornalista Daudt, trabalhava na Rede Brasil Sul de Comunicação (Jornal Zero Hora, RBS-TV e Rádio Gaúcha), entre outros veículos. Sempre foi um comentarista contundente em suas críticas. No seu penúltimo comentário na rádio, na véspera (sexta-feira), antes de ser assassinado, o tema escolhido por ele foi a "a inveja". Num dos trechos de sua fala dizia: "O invejoso quer é ser adorado, mas como não tem qualidades, expõe o que lhe resta, que é a própria mentira de vida. O invejoso pode ser tudo e, não é raro, pode até eleger-se deputado, porque ele jamais diria a seus eleitores que quer o poder para mostrar o quanto é bondoso e solidário consigo mesmo". O seu comentário chegou a gerar rumores em torno de uma suposta desavença dele com algum político de sua bancada, mas nada ficou confirmado.
O processo a que Dexhemer foi submetido levou dois anos tramitando na Justiça e ainda chegou a julgamento dividindo juízes e a opinião pública.
Ao final esse julgamento não só aproximou a Justiça do povo, como valeu por uma aula prática de Direito. Trabalharam no julgamento como advogado de Dexheimer, Oswaldo de Lia Pires, e Amadeu Weimann da família Daudt. No centro das atenções esteve o promotor público Paulo Olímpio Gomes de Souza encarregado de provar a culpa do réu.
Desembargadores que atuaram no julgamento: Décio Herpen, (Relator) - Guilherme Oliveira, (Revisor), Alaor Terra, José Barison, Milton Martins, Gervásio Barcelos, Manoel CelesteNelson Oscar de Souza, Elias Mansur, José V. de Lacerda, Osvaldo Proença, Luiz Melibio Machado, Ruy Rosado de Aguiar, Sérgio Pilla da Silva, Adalberto Liborio Barros, Aymoré Barros Costa, Cacildo de Andrede Xavier, Lio Cezar Schmitt, Alfredo Guilherme Englert, Tupinambá Miguel Castro do Nascimento e Balduino Mânica.
O médico Antônio Dexheimer foi inocentado da acusação da morte do jornalista José Antônio Daudt, no dia 22 de agosto de 1990. Sempre ouvi dizer que o crime nunca é perfeito, mas esse foi.

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