sábado, 4 de janeiro de 2014

O HOMEM E O CACHORRO

Olho pela janela do coletivo urbano e vejo na parada de uma sinaleira, um homem morador de rua, deitado no gramado do canteiro que divide as duas vias da Av. Getúlio Vargas, aqui em Porto Alegre, aproveitando o sol quente. Ao seu lado o carrinho de supermercado que utiliza para transportar o lixo reciclável e o companheiro fiel, o cachorro. Ambos dormem ao relento, obviamente descansando depois de uma manhã, início de tarde estafante após coletar garrafas pet, papelão, fios, e todo o material reaproveitável pelas empresas que trabalham com material reciclável. O que mais chamou-me a atenção foi o cachorro. A fidelidade do animal ao seu dono. Enquanto o coletivo permaneceu parado aguardando a abertura do sinal, um rapaz da mesma família de moradores de rua se aproximou. O homem que dormia não percebeu a chegada do estranho, mas o cachorro avançou e mostrou-lhe os dentes. Daí em diante não sei o que aconteceu porque o ônibus arrancou e perdi o final daquela invasão de privacidade pública. Que coisa não é?
Como o cachorro, não importa a condição social do seu dono, é leal, verdadeiro amigo do seu patrão!
Quando era criança meu pai possuía um cachorro da raça policial, o chamado capa preta. Chamava-se Kasbék. Não fiquei sabendo de onde surgiu o nome dado ao animal. Vivia solto pelo pátio. Ninguém entrava na nossa casa, era uma fera. Uma de suas habilidades ensinadas pelo meu pai era mandá-lo ao armazém. Naquele tempo era assim que se denominava um pequeno mercado de secos e molhados. Papai escrevia o que queria em um bilhete, colocava uma cestinha em sua boca e lá ia o Kasbék ás compras. O dono do armazém que conhecia o animal e a quem pertencia, imediatamente aprontava a compra, colocava na cesta e o Kasbék trazia para casa. É inacreditável esta história, mas verdadeira. Eu deveria ter meus oito anos de idade e ainda me lembro do nosso policial capa preta. Na nossa casa sempre tivemos cachorros. Teve também a história do Rúbi. Era um buldogue pedigree. Este vivia preso na corrente. Era muito bravo. Até nós de casa quando trocávamos de roupa ele estranhava e avançava. O falecido Francisco Pinto de Souza (Chico Pinto) diretor do Frigorifico Boavistense, das Três Vendas, já falecido, sabedor de que meu pai possuía um buldogue, e ele uma cadela da mesma raça que estava no cio, pediu o Rúbi emprestado para o acasalamento. Obviamente que meu pai cedeu ao seu pedido. Decorridos três dias da coabitação eis que chega em nossa casa a triste notícia: o Rúbi havia morrido tragicamente enforcado. Houve um pequeno descuido que culminou com a sua dolorosa morte. O local onde o casal de cachorros se encontrava, um pequeno galpão, possuía uma janela. O animal acorrentado no interior daquele cubículo, não se sabe como, pulou a janela e deu fim a sua vida sem ninguém perceber. Foi uma perda muito sentida. Desse fato não lembro se o Rúbi chegou a engravidar sua companheira e se ele deixou filhos órfãos. Hoje estima-se que exista no mundo inteiro aproximadamente  400 raças de cães. A frase “O cão é o melhor amigo do homem” foi dita durante um julgamento feito pelo advogado americano, George Graham Vest  em 1870, quando defendia a morte de Old Drum o melhor cão de caça de um fazendeiro local. O cão, pasme, tem 30 vezes mais tecidos sensoriais olfativos do que o ser humano, ouvem sons quatro vezes mais distantes do que o ser humano, além de ouvir ultra-sons de até 60 Khz, inaudíveis aos seres humanos, que só escutam até 20 Khz. A visão noturna dos cães também é muito melhor que a nossa. O seu ângulo de visão, inclusive, é mais amplo, devido aos olhos estarem ao lado da cabeça. Assim como todos os mamíferos não-primatas, são ditos dicromatas por  não conseguirem enxergar a cor verde.
Gosto, sempre gostei de cachorro. A única coisa que me antipatiza é o sujeito que mantém seu cão de estimação no apartamento, sai de casa, deixa o animal preso na área de serviço e este late, uiva, ladra, grita, chora e incomoda os vizinhos. E o que é pior, se a vizinhança reclama ele late, grita, uiva igual ao seu cachorro, mas não morde. 

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