Olho pela janela do coletivo urbano e
vejo na parada de uma sinaleira, um homem morador de rua, deitado no gramado do
canteiro que divide as duas vias da Av. Getúlio Vargas, aqui em Porto Alegre,
aproveitando o sol quente. Ao seu lado o carrinho de supermercado que utiliza
para transportar o lixo reciclável e o companheiro fiel, o cachorro. Ambos
dormem ao relento, obviamente descansando depois de uma manhã, início de tarde
estafante após coletar garrafas pet, papelão, fios, e todo o material
reaproveitável pelas empresas que trabalham com material reciclável. O que mais
chamou-me a atenção foi o cachorro. A fidelidade do animal ao seu dono.
Enquanto o coletivo permaneceu parado aguardando a abertura do sinal, um rapaz
da mesma família de moradores de rua se aproximou. O homem que dormia não
percebeu a chegada do estranho, mas o cachorro avançou e mostrou-lhe os dentes.
Daí em diante não sei o que aconteceu porque o ônibus arrancou e perdi o final
daquela invasão de privacidade pública. Que coisa não é?
Como o cachorro, não importa a condição
social do seu dono, é leal, verdadeiro amigo do seu patrão!
Quando era criança meu pai possuía um
cachorro da raça policial, o chamado capa preta. Chamava-se Kasbék. Não fiquei
sabendo de onde surgiu o nome dado ao animal. Vivia solto pelo pátio. Ninguém
entrava na nossa casa, era uma fera. Uma de suas habilidades ensinadas pelo meu
pai era mandá-lo ao armazém. Naquele tempo era assim que se denominava um
pequeno mercado de secos e molhados. Papai escrevia o que queria em um bilhete,
colocava uma cestinha em sua boca e lá ia o Kasbék ás compras. O dono do
armazém que conhecia o animal e a quem pertencia, imediatamente aprontava a
compra, colocava na cesta e o Kasbék trazia para casa. É inacreditável esta
história, mas verdadeira. Eu deveria ter meus oito anos de idade e ainda me
lembro do nosso policial capa preta. Na nossa casa sempre tivemos cachorros.
Teve também a história do Rúbi. Era um buldogue pedigree. Este vivia preso na
corrente. Era muito bravo. Até nós de casa quando trocávamos de roupa ele
estranhava e avançava. O falecido Francisco Pinto de Souza (Chico Pinto)
diretor do Frigorifico Boavistense, das Três Vendas, já falecido, sabedor de
que meu pai possuía um buldogue, e ele uma cadela da mesma raça que estava no
cio, pediu o Rúbi emprestado para o acasalamento. Obviamente que meu pai cedeu
ao seu pedido. Decorridos três dias da coabitação eis que chega em nossa casa a
triste notícia: o Rúbi havia morrido tragicamente enforcado. Houve um pequeno
descuido que culminou com a sua dolorosa morte. O local onde o casal de
cachorros se encontrava, um pequeno galpão, possuía uma janela. O animal
acorrentado no interior daquele cubículo, não se sabe como, pulou a janela e
deu fim a sua vida sem ninguém perceber. Foi uma perda muito sentida. Desse
fato não lembro se o Rúbi chegou a engravidar sua companheira e se ele deixou
filhos órfãos. Hoje
estima-se que exista no mundo inteiro aproximadamente 400 raças de cães.
A frase “O cão é o melhor amigo do homem” foi dita durante um julgamento feito
pelo advogado americano, George Graham Vest em 1870, quando defendia a
morte de Old Drum o melhor cão de caça de um fazendeiro local. O cão, pasme,
tem 30 vezes mais tecidos sensoriais olfativos do que o ser humano, ouvem sons
quatro vezes mais distantes do que o ser humano, além de ouvir ultra-sons de
até 60 Khz, inaudíveis aos seres humanos, que só escutam até 20 Khz. A visão
noturna dos cães também é muito melhor que a nossa. O seu ângulo de visão,
inclusive, é mais amplo, devido aos olhos estarem ao lado da cabeça. Assim como
todos os mamíferos não-primatas, são ditos dicromatas por não conseguirem
enxergar a cor verde.
Gosto, sempre gostei de cachorro. A única coisa
que me antipatiza é o sujeito que mantém seu cão de estimação no apartamento,
sai de casa, deixa o animal preso na área de serviço e este late, uiva, ladra,
grita, chora e incomoda os vizinhos. E o que é pior, se a vizinhança reclama
ele late, grita, uiva igual ao seu cachorro, mas não morde.
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