quinta-feira, 13 de junho de 2013


ESTÓRIAS QUE NUNCA FORAM CONTADAS
Em 1953, era jovem ainda, por uma deferência do então Escrivão do Cível, do Foro de Erechim, Walter Schenatto, (Osso), fui admitido como aprendiz de auxiliar dos serviços cartorários. Naquela época o titular do cartório podia contratar sem concurso. Os primeiros dias foram de observação de como se processa a emissão, análise, autenticação, registro e arquivamento de notas, documentos e processos. Meu professor era o ajudante Acildo Bohrer. Com o passar do tempo, fui aprimorando meus conhecimentos e cheguei a ser datilógrafo de audiência, ou seja, aquele que transcreve para o papel as palavras ditadas pelo Juiz interrogador. Durante o curto tempo em que permaneci nessa atividade, pois o rádio me fascinou e por ele me decidi, ouvi muitas estórias. A mais espetacular ocorreu em uma audiência em que eram partes  um empresário e um empregado. A ação era trabalhista. Naquele tempo não havia ainda em Erechim a Justiça do Trabalho, por isso todo o julgamento de questões que envolviam patrão e empregado era feito pela Justiça comum. A reclamatória era uma indenização. Houve audiência conciliatória sem acordo, e o Juiz decidiu pela condenação do empresário em pagar o devido valor reivindicado. Era coisa de cerca de cem cruzeiros. Na verdade não lembro bem o valor da pedida. Ao ouvir a sentença, o empresário dirigindo-se ao empregado disse:
- Toma, isso fica de esmola pra você!
Lavrado o termo de sentença e liquidação da ação o Juiz dispensa o empresário e solicita que o empregado permaneça por mais alguns instantes na sala. Deu tempo ao cidadão para descer as escadas do Foro e quando este chega à porta de saída, o Juiz solicita ao Oficial de Justiça que vá atrás do empresário e traga-o novamente a sala.
Nesse momento trava-se o seguinte diálogo:
- Sr... condenei-o a pagar ao seu empregado a quantia de cem cruzeiros!
- Mas, eu já o paguei, Vossa Excelência não percebeu?
- Tanto percebi que os cem cruzeiros que o senhor deu ao seu empregado foi de esmola, agora estou condenando-o a pagar a indenização!
Moral da estória, por ter sido prepotente e se excedido na presença do magistrado o empresário teve que pagar em dobro a indenização.
É uma pena que não tenho mais espaço, se não contaria aquela estória do sujeito que foi intimado a comparecer em juízo e explicar o porquê da prática de ato obsceno praticado.
Já que me restam poucas linhas vou relatar somente o motivo da audiência.
Diz o Juiz: – Consta aqui da denúncia oferecida pelo Ministério Público que o senhor no dia x, do mês e ano tal, a tantas horas, no bairro h, dentro da agência bancária Y, o senhor, com vontade livre e consciente de ultrajar o pudor público, praticou ventosidade intestinal, depois de olhar para o guarda de forma debochada, causando odor insuportável a todas as pessoas daquela agência bancária, fato, que, por si só, impediu que pessoas pudessem ficar na fila, passando o senhor a ser o primeiro da fila.
Esses fatos são verdadeiros?
Réu – Não entendi essa parte da ventosidade... O que mesmo?
Juiz – Ventosidade intestinal.
Réu – Ah sim, ventosidade intestinal. Então, essa parte é que eu queria que o senhor me explicasse direitinho.
Juiz – Quem tem que me explicar aqui é o senhor que é réu. Não eu. Eu cobro explicações. E então. São verdadeiros ou não os fatos?
O juiz não percebeu que, em verdade, o réu não estava entendendo nada do que ele estava dizendo.
Réu – O guarda estava lá, eu estava na agência, me lembro que ninguém mais ficou na fila, mas eu não roubei ventosidade de ninguém não senhor. Eu sou um homem honesto e trabalhador, doutor juiz “meretrício”.
Prometo que na próxima terça-feira,18, conto toda a estória que fez um cidadão explicar á Justiça porque deu um “pum” na fila do banco.

 

 

 

 

 

 

 

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