QUEM GANHA E QUEM PERDE COM
O NOVO PAPA
Eleição
de argentino representa derrota da Cúria Romana e vitória de Bento XVI, diz
autor de livro sobre Sucessão no Vaticano. Para ele, Francisco não promoverá
mudanças em questões morais, mas pode reaproximar a igreja da população.
Abaixo o artigo escrito por Wellington
Miareli Mesquita , jornalista e autor do livro que narra a morte de João Paulo II e a eleição de Bento XVI.
"A eleição
de Jorge Mario Bergoglio representa, sem dúvida, uma derrota para a Cúria
Romana, encabeçada pelo cardeal decano Angelo Sodano. Vitória do emérito Joseph Ratzinger – que deve ter brindado com suave
vinho italiano ao assistir pela televisão, em Castel Gandolfo, a eleição de seu
sucessor. Contra a sujeira, a soberba e a auto-suficiência, apresenta-se Francisco, embora não franciscano, mas jesuíta.
Por
séculos, os jesuítas elegeram o seu papa negro, assim era chamado o líder da
poderosa congregação, o Prepósito-geral, que se apresentava numa imponente
batina preta. A alcunha fazia referência à influência que a companhia exercia
dentro da Igreja Católica. Desta vez, os jesuítas e toda a igreja terão um papa
branco, e latino-americano, região onde eles se confundem com o próprio processo
de colonização.
A escolha
de um papa não europeu vai ao encontro dos planos de Bento XVI. Em seus
inúmeros consistórios, o papa emérito alemão promoveu ampla renovação e
internacionalização no colégio de eleitores. Dividido, o clero italiano
rejeitou a candidatura Ângelo Scola. Contra Dom Odilo Scherer, talvez, tenha pesado a idade (ficaria pelo menos 20 anos no cargo) e,
principalmente, seu envolvimento na comissão que gerencia o Banco do Vaticano.
Bergoglio
entrou cardeal e saiu papa, confirmando a máxima. Em 2005, foi apontado como
preferido do reformista Carlo Maria Martini, e ficou em segundo lugar no
Conclave. A idade avançada, 76 anos, e seu posicionamento ferrenho contrário ao
carreirismo mandaram um recado claro à cúria romana: pontificados longos
imobilizam a máquina e a corroem, fato bem compreendido após o extenso
pontificado de João Paulo II.
Finda a
euforia do Conclave, sucesso de audiência em todo o mundo, Bergoglio precisará
de muita força para enfrentar as disputas internas. Os oito anos de Bento
XVI não foram fáceis, a oposição de dentro da cúria lhe causou sérios
incômodos. Vazamento de informações sigilosas, ataques constantes ao secretário
de Estado Tarcisio Bertone, e intrigas, tudo isso manchou o conturbado
noticiário vaticano. Apesar de sua experiência em alguns órgãos da Santa Sé,
Bergoglio é visto como um homem extramuros.
Em
questões morais, papa Francisco não se afastará de seus antecessores. Contrário
à pílula, ao aborto e à legalização de uniões de casais homossexuais. Todavia,
apesar da timidez inicial, mostra-se um homem de carisma e mais próximo à
população, ao diálogo, de gestos simples, contrário à ostentação e próximo aos mais
necessitados. Em recente entrevista ao diário La Stampa, disse que a
igreja deve andar em direção à periferia.
Conversando
com um alto prelado em Brasília, percebi o clima de otimismo e grande
expectativa pela eleição do papa portenho. Mudança histórica, que sinaliza uma
nova era para o catolicismo. Que o Novo Mundo dê vigor à missão do sucesso de
Pedro e o papa argentino transmita mais humanidade à violenta América Latina. A
reforma na Igreja Católica, como previsto, não será de esquerda ou direita, mas
virá pelo centro".
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