AS
PANDORGAS
Estamos na Semana Santa. Lembro de uma
viagem que fiz a Santana do Livramento em plena semana da Paixão e constatei
uma tradição que é todos os anos reprisada nesta época. Na região da fronteira,
se houver vento e sol, aparecem nos céus as pandorgas. Sempre há alguém nos
campos ou nos cerros a levantar pandorgas. A prática de soltar pandorgas foi
trazido ao Rio Grande do Sul por imigrantes espanhóis de Valência. Até hoje, os
valencianos empinam papagaios, pipas, caixas e bonecos. Desde as últimas
décadas do século passado, Santana do Livramento e a gêmea uruguaia Rivera são
as cidades em que o culto às pandorgas é maior. Os preparativos começam antes mesmo
da Semana Santa, com a procura de taquaras, papéis, e linhas. Para os que não
tem habilidades para montar uma pandorga, chegam a ser armadas bancas nas
praças para oferecerem pipas de todos os tipos. É um espetáculo muito bonito de
se assistir. Há mais de um século os santanenses e riverenses torcem para que
não chova nem falte vento na Sexta-Feira Santa.
Se o dia é bonito, desde cedo gente de
todas as idades saem de casa com suas pandorgas, vão para os arredores das duas
cidades, nas coxilhas e cerros.
Nunca tinha visto coisa igual, o céu
fica tomado de pandorgas. Desde 1970 os melhores pandorgueiros da fronteira
disputam concurso internacional.
Enquanto as diversas categorias são julgadas por uma comissão, desde a
menor pandorga até a mais original, o público assiste um show de acrobacias.
Nesse dia também todos aproveitam e cumprem
mais uma tradição da Sexta-Feira Santa: colhem macela antes do nascer o sol. A
erva medicinal se torna milagrosa com o sereno do dia santificado.
Portanto, a Sexta-Feira Santa, antes do Domingo de Páscoa, é a data em que os
cristãos lembram o julgamento, paixão, crucificação, morte e sepultamento de
Jesus Cristo, através de diversos ritos religiosos.
A Igreja
Católica exorta aos fiéis que pratiquem algum sinal de penitência, em respeito
pela morte de Cristo. Por isso é tradição a prática do jejum e abstinência,
seja da carne ou qualquer outro ato que se refira a prazer.
Por que a
carne? Porque é um alimento do qual, normalmente, todos comem regularmente. Não
seria sacrifício abster-se de uma coisa da qual não gosta.
Nesse dia
come-se peixe. É um costume bem antigo, instituído no final do século XI, pelo
papa Urbano II, definindo a abstinência
de carne vermelha como prática de penitência.
No domingo celebra-se a Páscoa da
ressurreição. Páscoa é passagem de uma vida independente dEle para uma vida com
sua presença, e é muito difícil não abrir a porta de nossa casa interior para
essa reconciliação, não constranger-se, não curvar-se a isso, tendo em vista
que Ele mesmo vem a nós e nos chama!
A reconciliação proposta pela Páscoa é
algo fantástico! É uma proposta ampla demais, uma vez que se estende para uma
reconciliação com a vida interior, com nossa vida, com nossos relacionamentos,
com nossas tarefas profissionais, nossas esperanças, nossos sonhos Que você
experimente essa novidade em sua vida todos os dias, que você vivencie a Páscoa
– com toda a sua significação – cotidianamente! Sempre que vivenciando
desespero, perdas, mágoas, brigas que parecem sem solução com pessoas estimadas
e∕ou muito amadas e diversas outras intempéries, lembre-se que o terceiro dia
vem! Cristo ressuscitou ao terceiro dia (entregou seu espírito a Deus às três
da tarde e ressurge dos mortos na madrugada de domingo, exatamente como
prometido: ao terceiro dia após sua morte – Marcos 14,58) e este tempo também
chega para nós! Que o Espírito nos conceda “marcos simbólicos” que nos
permitam perceber essa “passagem” de um momento a outro, de um tempo
marcado por tristezas, choros, cansaço, para um tempo de refrigério, paz,
alegria, marcado por reconciliação e que te dê a percepção da amplitude da
vivência da Páscoa! Feliz Páscoa a todos.
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