terça-feira, 3 de janeiro de 2012

TUDO ESTÁ COMO DANTES...
Não desejamos ser intransigente, mas às vezes temos que ser. Há um mês escrevi sobre o péssimo serviço que presta o SAMU, não só em Erechim, mas em todo o interior do Rio Grande do Sul. As reclamações são cotidianas.
Foram concedidas entrevistas dos responsáveis pelo Serviço Médico de Urgência com inúmeras explicações e esclarecimentos, mas nada mudou. “Tudo está como dantes, no quartel de Abrantes”. O dito popular significa que nada modificou. Não tem nada a ver com Dante Alighieri, muito menos com a Divina Comédia.
Sem querer lembrar o caso daquela moça que morreu recentemente de acidente de moto na rodovia Erechim/Barão de Cotegipe, na semana passada outro fato aconteceu com um idoso, obviamente não de moto, mas em sua casa, nas proximidades do aeroporto, não fosse à cooperação da Brigada Militar, o caso poderia ter sido pior.
Em entrevista concedida a uma emissora local, após a repercussão da morte da jovem Vanessa, eu ouvi (ninguém me disse), que a população poderia ficar tranquila, pois a partir daquele dia haveria uma melhora no atendimento do SAMU. A direção central do sistema em Porto Alegre tinha consentido que em casos de urgência, poderia ser acionado o telefone celular do motorista de plantão da ambulância, e tudo se resolveria. Nada disso funcionou e não funciona. Vale lembrar novamente como é procedido o atendimento desse péssimo serviço. As pessoas que chamarem o SAMU, em situações de risco de vida iminente, como: urgências clínicas agudas (parada cardio-respiratória, dificuldade respiratória severa, convulsões, etc); urgências traumáticas (atropelamentos, acidentes de trânsito, quedas, queimaduras graves, afogamentos, agressões por armas de fogo ou brancas, choques elétricos, e outras), devem ligar para o número 192 – atendimento gratuito 24 horas - com gravação completa das conversações.
Uma telefonista acolhe o pedido e registra: nome do solicitante, telefone, endereço, pontos de referência, nome do paciente, sexo, idade, queixa e fator causador. Nessa operação identificação se passam de três a cinco minutos. A ligação depois é transferida ao médico regulador do serviço que, por sua vez, interpreta a gravidade da situação e a partir das informações recebidas, passa também a interrogar o solicitador que deve responder com objetividade, por exemplo, se o acidentado respira. Ele está consciente? Tem ferimentos visíveis? Só depois é que o Médico Regulador decide pelo envio da Ambulância de Suporte Básico ou Avançado – UTI. Em situações não caracterizadas como risco iminente de vida, o médico orienta outras medidas. Feitos todos estes procedimentos a ambulância é liberada. E aí já se passaram de cinco a dez minutos.
Pergunta-se: como uma pessoa leiga pode atestar ou informar se a vítima corre risco de vida? Se foi ferida com arma branca, se teve um aneurisma, uma parada cardíaca, um AVC? Começa que muitos nem sabem o que seja arma branca! Até explicar que tomada de luz não é focinho de porco, o doente acaba morrendo. É muito difícil para uma testemunha vendo uma pessoa agonizando na rua ou na calçada, diagnosticar os sintomas da vítima para quem esteja em Porto Alegre, se é por queda na via pública ou desmaio; se ele respira, se o coração está batendo, se é uma convulsão, um aneurisma etc. Tem gente quem nem se aproxima do acidentado.
Só tem um jeito de acabar com esta megalomania patológica organizacional do SAMU: mudar o sistema de gestão e dar autonomia para as Secretarias Municipais de Saúde gerenciar o serviço. Do contrário, a novela vai prosseguir.
Outro caso de repercussão foi à morte de um jovem caminhoneiro que permaneceu 11h moribundo vítima de acidente de trânsito, por falta de atendimento de uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). O acidentado foi levado em ambulância de Vera Cruz até Passo Fundo, distante 240 quilômetros do local do acidente para ser atendido e acabou morrendo.
O assunto é sério e precisa urgentemente ser debatido com maior profundidade e responsabilidade entre autoridades e as classes sociais organizadas. Não há mais como compactuar com tamanho descaso.
E os nossos políticos o que fazem? A Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa que, inclusive, é integrada por deputados da região, só serve para palco de atores e eloquentes discursos. O caso do caminhoneiro que morreu por falta de UTI foi o 17º. no ano de 2011, mais de um por mês por falta de UTI nos hospitais. A gente sabe que uma vida não tem preço. O dinheiro não trás ninguém de volta. Mas, como castigo pelo erro e omissão, o Estado deveria ser penalizado a pagar magnificente indenização à família do infeliz caminhoneiro. Deveria. Acho até que nem auxiliou no funeral do infeliz motorista!

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