sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

O ACERVO DO CAVALEIRO DA ESPERANÇA
Leio na Folha de São Paulo que a viúva do líder comunista Luiz Carlos Prestes,  acaba de doar ao Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro, o acervo pessoal do ‘cavaleiro da esperança’. São dez álbuns contendo fotografias e 27 pastas de cartas, telegramas e documentos, incluindo correspondências trocadas com lideranças comunistas de diferentes países e com os filhos. A doação aconteceu no dia em que ele nasceu, em 03.01.1898, portanto, há 114 anos, em Porto Alegre. As fotos doadas incluem imagens do bebê Prestes, em 1898, junto com os pais, do exílio em Moscou, da filiação do pintor Cândido Portinari ao PCB e de uma visita com o ex-presidente Lula a Cuba. Prestes não era só político, era um ser humano. Um pai exemplar, que discutia, dialogava com os filhos. Prestes teve sete filhos com sua segunda esposa Maria, além de dois de um casamento anterior que foram criados como filho por ele, pai também de Anita Leocádia, sua filha com a dirigente comunista alemã Olga Benário.
Estou lembrando ao ler esta notícia da vez que o entrevistei na cidade de Descanso (SC), por ocasião de uma homenagem que a cidade prestou-lhe nas comemorações dos 30 anos de emancipação do município em 16.12.1986. Foi uma das mais bonitas homenagens que presenciei até hoje a um líder político. Na época Prestes tinha 88 anos e possuía uma memória e lucidez impressionante. Na entrevista lembrava com orgulho os feitos conquistados. Presenciaram esta entrevista durante o almoço o ex-prefeito Jayme Lago, convidado especial do prefeito catarinense, e o major Luiz Fagundes, um dos poucos companheiros do líder comunista vivo na época e integrante da Coluna. Minha conversa com Prestes durou cerca de uma hora. Foi uma rara oportunidade para um repórter interiorano conhecer pessoalmente o ‘cavaleiro da esperança’ como era denominado pelos seus companheiros e saber um pouco da sua história.
Ainda estou lembrado de uma pergunta que lhe fiz, se sentia saudades dos tempos da Coluna? Franziu a testa e respondeu; “pelo ideal sim, mas pela perda de amigos inesquecíveis, não”.
E lembrou com emoção nomes como Pedro Bins, que com ele iniciara o movimento em Santo Ângelo, os oficiais Aníbal Benévolo, Mário Portela, Santos Paiva, Ernesto Pinto e tantos outros.
Outra curiosidade revelada por Luiz Carlos Prestes durante a entrevista foi a de que dos 65 anos de maior idade, nove passou na cadeia, 21 no exílio, 27 na mais dura clandestinidade, dois na Coluna, no combate direto e seis de vida legal. É dele a frase: acho que cometi muitos erros, mas só não erra quem nada faz. É o pior dos erros.
Foi ele que também me disse na entrevista que o percurso percorrido de São Luís (RS) até São Mathias, na Bolívia, onde ocorreu a deposição das armas, tinham sido vencidas 3.742,5 léguas, ou seja, 24.947,5 quilômetros. Prestes e a Coluna são indissociáveis . O destino de um forjou o do outro. Morreu pobre, como pobre nasceu.
Prestes nasceu em Porto Alegre, na Rua Riachuelo, em 3 de janeiro de 1898, filho de Antônio Pereira Prestes e Leocádia Felizardo Prestes.
Jorge Amado, no clássico Cavaleiro da Esperança, conta que o avô materno de Prestes, José Joaquim Felizardo, fazia abolição dos escravos à sua maneira. Comparava escravos com o único fito de libertá-los, empregando fortunas nessa obra de fazer homens livres.
O contato pessoal que fiz com Luiz Carlos Prestes marcou minha vida profissional de jornalista e repórter, Os momentos que passei junto dele foram inesquecíveis.
Após o almoço para mais de duas mil pessoas, deixou-me uma lembrança que guardo com muito zelo e carinho. Ele escreveu no fundo de um prato de papelão antes de ser servido o churrasco o seguinte: Ao amigo Francisco B.Dias, nos 30 anos de Descanso (SC), a lembrança de Luiz Carlos Prestes. Descanso, 16/12/86. A cidade foi batizada com este nome porque o líder comunista ao passar por ela com sua coluna acampou e descansou.

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