A
FRAUDE DO LEITE
A
descoberta da fraude do leite na ação conjunta entre fiscais do Ministério da
Agricultura e o Ministério Público chega às raias da indignação popular. Tudo
por causa da ganância, lucro fácil e em prejuízo da saúde da população. O
ministro presidente do STF - Supremo Tribunal Federal –Joaquim Barbosa falou
uma frase que é um verdade: “nossas leis são frouxas”. E o são mesmo. Talvez
por isso tanto abuso. Chamou-me a atenção a maneira como os autores da fraude
em Ibirubá se comunicavam. Eles usavam a emissora de rádio local pela
deficiência do sinal telefônico celular. A comunicação do grupo então, era
feita através de pedido de uma música da dupla Chitãozinho e Xororó, que
segundo o promotor Mauro Rochembach, servia de código para informar que o
carregamento do leite fraudado estava seguindo para o local determinado, e que,
portanto, o receptador deveria comparecer. Dessa forma, os criminosos também
avisavam os motoristas dos caminhões que não era para chegar ao entreposto e evitar
descarregar o produto quando havia fiscalização.
Esta
inteligente maneira de comunicação, (não
deixa de ser), me faz lembrar um fato ocorrido na cadeia municipal, que
funcionava nos porões da Prefeitura há muitos anos. Um estelionatário ao ser
preso deixou avisado ao delegado que iria fugir. E fugiu, utilizando o horário
em que a Rádio Erechim, na época, irradiava um programa de dedicatórias, que possibilitava
aos ouvintes oferecerem músicas pelo aniversário natalício, casamento, bodas de
prata, ouro, ou outro motivo qualquer. Pois, no dia da fuga o estelionatário
comprou quase o programa todo, e mandava dedicar a Marselhesa, a diferentes
pessoas, obviamente, todas com nomes fictícios. Naquela tarde-noite a música
francesa tocou repetidamente cerca de 15 vezes. Os presos naquele tempo podiam
possuir um aparelho de rádio na cela. Durante a execução da Marselhesa com o
volume do rádio um tanto alto, para não se ouvir o ruído da serra, a cada
compasso da música, ele movimentava a serra contra as grades. Ninguém percebeu
e, de fato, ele evadiu-se. Essa história é verídica. Depois, chegando em
Joaçaba-SC, enviou pelo correio ao delegado as três barras de ferro que havia
serrado, com um bilhete que dizia: Senhor Delegado, cumpri a promessa que lhe
fiz. Estas grades por não me pertencerem estou devolvendo para que Vossa
Senhoria recoloque-as no mesmo lugar. Atenciosamente... Portanto, antes da
quadrilha do leite de Ibirubá usar a tática da música como código um
estelionatário erechinense já havia descoberto há 50 anos. Mas, o que causa
repulsa é o nosso Código Penal, velho e escanzurrado pelo tempo ser tão bondoso
para esse tipo de crime. Os envolvidos vão ser enquadrados por formação de
quadrilha (pena mínima de um ano, de acordo com o artigo 288 do Código Penal) e
pelo crime hediondo de corrupção de produtos alimentícios, que prevê pena
mínima de quatro anos de reclusão, segundo o artigo 272 do Código Penal. Não se
surpreendam se não responderem em liberdade.
Lendo
o artigo escrito pelo jornalista e escritor Celito de Grande, em jornal de
grande circulação no estado, neste final de semana, sobre os momentos vividos
por ele durante o assalto de que foi vítima, lembrei-me do dia em que também fui
assaltado. Após sua habitual caminhada no Parque Marinha do Brasil, pela manhã
com um pouco de nevoeiro, ao término do exercício resolveu sentar em um banco
para respirar o ar da manhã, puro e saudável. Sem perceber, dois jovens se
aproximaram e roubaram o seu relógio, alguns trocados em dinheiro e o celular.
Não usaram de violência. No meu caso, foi mais ou menos parecido. Estava na
parada do ônibus que me transportava na época até o meu local de trabalho e um
motoqueiro com uma jovem na garupa parou ás minhas costas, e com um revólver
apontado para minha cabeça pediu a pasta que levava meu gravadorzinho, uma
pequena Bíblia, celular, relógio, documentos pessoais, cartão bancário e até
meus óculos de grau. Pedi que pelo menos deixassem meus óculos de grau que
usava, mas o rapaz respondeu-me malvadamente: cala a boca. A gente, realmente,
numa hora dessas fica a mercê do bandido, não há como se defender, e se reagir
podemos perder a vida.
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