domingo, 23 de outubro de 2011

SOU UM POLICIAL MILITAR‏
A autoria do texto abaixo não é minha, mas quem o escreveu o fez num momento de rara inspiração. É um desabafo feito a uma comunidade de Direitos Humanos no Orkut sobre o que é ser policial militar. O texto é de uma pessoalidade ímpar e paradoxalmente gera uma identificação imediata por qualquer PM. Soou quase como uma oração, por isso se você é policial militar leia até o fim e diga se já não se encontrou em alguma situação citada nestas linhas. Caso não seja PM, aconselho do mesmo modo a leitura. Talvez assim entenda o quanto esta profissão é árdua e na maioria mal compreendida.
“Antes de ser policial militar, fui carteiro; bombeiro; cobrador de ônibus; fuzileiro naval e fui palhaço de circo.
Paralelamente a estas profissões, sou desenhista de quadrinhos e programador de jogos para web, além de lecionar história quando estava na UFRN, Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Como desenhista de quadrinhos, ouço sempre, de alguns, que sou um desocupado. Como palhaço de circo, ouço de alguns, até hoje, que aquilo é vida de vagabundo. Como fuzileiro naval, ouvi de muitos, que fui um boneco do estado. Como cobrador de ônibus, ouvi de muitos, que eu era um ladrão, por não ter, às vezes, moedas de R$ 0,01 e R$ 0,05, para dar de troco. Como bombeiro, nunca recebi um “obrigado”, ao retirar um gatinho de uma árvore, nem por mergulhar num esgoto, para salvar uma pessoa que foi levada por uma enxurrada. Tive que aprender a me acostumar com isso, além de começar a compreender como a linha da vida é tênue e a matéria se desfaz por besteira.
Como policial militar, enfrentei o maior choque cultural de minha vida, ao ter de argumentar com todo tipo de pessoas, do mendigo ao magistrado, entrar em todo tipo de ambiente, do meretrício ao monastério. Também fui parteiro, quando não dava tempo de levar as grávidas ao hospital, na madrugada; fui psicólogo, quando um colega discutia com a esposa, diante da incompreensão dela, às vezes, com a profissão do marido; fui assistente social, quando tinha de confortar a mãe de alguma vítima assassinada por não possuir algo de valor que o assaltante pudesse levar. Como policial militar, fui pedreiro, ao participar de mutirões para reconstruir casas destruídas por enchentes; fui paramédico, ao ver um colega ir a óbito a bordo da viatura e ao retirar uma espinha de peixe da garganta de uma criança; fui apedrejado por estudantes da mesma escola na qual estudei e fui professor, por pessoas do mesmo grêmio do qual participei.
Como policial militar, lembro que sobrevivi cinco graves acidentes com viaturas, nunca a menos de 120km/h, na ânsia de chegar rápido àquela residência onde a moça estava sendo estuprada ou um idoso estava sendo espancado. Quantas vezes arrisquei-me a contrair vários tipos de doenças, ao banhar-me com o sangue de vítimas às quais não conhecia, mas que tinha obrigação de tentar salvar. Arrisquei-me contaminar minha família com os mesmos tipos de doenças, pois ao chegar em casa, minha esposa era a primeira a me abraçar, nunca se importando com o cheiro acre de sangue alheio, nem com as manchas que tinha de lavar do uniforme;
Como policial militar, fiquei revoltado, ao necessitar de um leito para minha esposa ganhar nenê, e ao chegar no hospital da polícia, deparar-me com um traficante sendo operado por um médico particular; fui o cara que mudou todos os hábitos para sempre, andando em estado de alerta 25 horas/dia, sempre com um olho no peixe e outro no gato, confiando desconfiado.
Como policial militar, fui xingado, agredido, discriminado, vaiado, humilhado, espancado, rejeitado, incompreendido
Na hora do bônus, esquecido;
Na hora do ônus, convocado.
Tive de tomar, em frações de segundo, decisões que os julgadores, no conforto de seus gabinetes, tiveram meses para analisar e julgar.
E mesmo hoje, calejado, ainda me deparo com coisas que me surpreendem, pois afinal ainda sou humano...
Não queria passar pelo que passei, mas fui voluntário, ninguém me laçou e me enfiou dentro de uma farda; Observando-se por essa ótica, é fácil ser dito por quem está de fora, que minha opinião não importa, ou que simplesmente, não existe.
Amo o que faço e o faço porque amo. Sei que terei de passar por tudo de novo, a qualquer hora, em qualquer dia e em qualquer lugar, e o farei, sem reclamar, nem recuar.
Não somos melhores nem piores do que ninguém somos apenas seres humanos diferentes... Policiais militares, sim, mas seres pensantes....

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