CACOETE
VERBAL
Você já reparou como as pessoas se
tornam insuportáveis, quando possuem cacoetes? Dá um nervoso na gente. E o que
mais irrita é ouvir um locutor, ou um apresentador por exemplo, que usa o
cacoete “ta”, “ta legal”, “né”, “viu?”, “entende”, “sabe?” ou “veja bem”.
Sábado, por acaso, estava ouvindo uma
emissora local quando um deputado usou durante seu programa semanal 75 vezes a
palavra "não é". Até este número resisti, depois mudei de estação. Outra
palavra usada em excesso foi "evidentemente". O cacoete verbal torna
o locutor chato, cansativo e prolixo. Ninguém aguenta! Do ponto de vista
publicitário, que é o maior interesse provavelmente do parlamentar, acaba
tornando sua apresentação negativa e desinteressante. Pensa que está agradando,
mas, na verdade, está lhe prejudicando.
Isto me faz lembrar quando um certo
candidato a deputado estadual pelo PFL na época, ele possuía o mesmo defeito
verbal. A organização da campanha era tão exigente que obrigava o candidato a
fazer seus pronunciamentos, preliminarmente, a uma comissão especialmente
formada, para observar o conteúdo, a postura e os seus gestos. E
coincidentemente esse candidato tinha, e tem, até hoje, o mesmo cacoete do
"não é". Volta e meia quando é entrevistado escorrega no cacoete
verbal.
Estes vícios lingüísticos falantes que
(in)conscientemente repetem ad nauseam, considero um desleixo de quem
tem a obrigação de, ao se comunicar, não exagerar nos termos.
Na verdade, devemos falar em linguagem
adequada, porém, de forma a não causar mal-estar a quem estiver ouvindo.
Cacoetes verbais, portanto, são vícios no falar que precisam
ser corrigidos. Exemplos de cacoetes verbais são expressões obsessivamente
repetidas a cada pausa, como “hahn”; “quer dizer”; “praticamente”; “verdade”;
“né”; “então”; “daí”; etc.
Como
corrigi-los? Primeiramente, ficando consciente do problema; a seguir tomando a
decisão de substituir por um sinônimo aquela palavra ou expressão do nosso
banco geral de vocábulos; depois fixando essa decisão na memória; e por fim,
permanecendo atento para perceber quando você incide novamente no erro, para
corrigi-lo – pelo menos mentalmente - tão logo o pronuncie.
Este
procedimento vai conseguir que sempre que viermos a pronunciar aquela expressão
ou palavra, ela retorne à nossa consciência, como um alerta, como se sua
pronúncia houvesse sido feita em voz muito mais alta.
Consciente
pela ação da memória, a correção se fará instantaneamente. A repetição desse
processo vai no mínimo deixar-nos mais alertas para o problema, e, na maioria
dos casos vai evitar a repetição obsessiva daquela expressão ou palavra da
nossa linguagem. Um outro tipo de cacoete verbal que prejudica o discurso, ou a
fala, e pode criar uma situação de ridículo, é o “cacófato”. Cacófatos são rimas que decorrem da fusão entre
o fim de uma palavra e o início de outra, que se estabelecem ao falar, resultando em uma terceira
palavra imprópria para o discurso, quando não grosseira, vulgar e até mesmo
obscena. Outro tipo ainda é o abuso do
“lugar comum”.
Chamamos
de “abuso do lugar comum” a utilização de palavras e expressões, cujo uso
abusivo decorre de sua capacidade de resumir idéias e de não comprometer quem
as usa com qualquer posição controvertida e que, por essas razões, são usadas
habitualmente nos discursos.
São
expressões que, de tão previsíveis, podem ser adivinhadas pelo ouvinte,
conforme a sequência da frase. Embora não impliquem incorreção de linguagem,
são também vícios que retiram do discurso, sua atração, originalidade e
surpresa.
Exemplos
de lugar comum na linguagem política são, entre muitos outros, o uso exagerado
de termos como: “bem comum”; “inserido no contexto”; “os aspectos político,
econômico e social”; “a lei maior”; “como dizia ‘fulano de tal’”; etc. Deputado!
Vê se corrige o "não é".
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