Escreve Confúcio: “Para conhecermos os amigos é necessário
passar pelo sucesso e pela desgraça. No sucesso, verificamos a quantidade e, na
desgraça, a qualidade”.
Eu já passei pelas duas experiências.
Enquanto era um homem de sucesso os amigos desabrochavam
borbulhantemente.
A atividade de comunicador facilitava-me amplamente. Lembro
de um programa de rádio onde atuei durante 22 anos ininterruptos que além de
transmitir informações, anúncios diversos, patrocinava também ações de
benemerência. Uma vez um ouvinte foi operado de uma hérnia, graças ao prestígio
do programa e a cooperação do falecido Dr. Reno Viero, recém formado cirurgião.
Outro ouvinte, cego, foi encaminhado a uma clinica de olhos em Buenos Aires, na
Argentina, com a cooperação do Dr. Fernando Gomes da Silveira e a participação
de vários ouvintes através de uma campanha arrecadatória espontânea de dinheiro
para sua mantença. A passagem foi por conta da UNESUL, do então diretor, hoje
presidente, Belmiro Záffari. Portanto, o programa me fez um sujeito notado,
verdadeiramente de sucesso e, como tal, era muito prestigiado não faltavam
"amigos".
A adversidade veio mais tarde. A vida nem sempre é um mar de
rosas - não é? - ás vezes ela nos surpreende deixando-nos exatamente como o
pintor que estava a pintar a parede, tiraram-lhe a escada e além de se
estatelar ao chão ficou sem o pincel. Nessas ocasiões é que a gente conhece
quem são os verdadeiros comungantes amigos solidários.
Da última experiência vivida ficaram ainda algumas sequelas.
Hoje, analisando quantos "amigos" autênticos possuo observo que o
número deles não preenche os dedos de uma de minhas mãos. Recebi de três deles
o que nunca imaginara um dia pudesse admitir, a maior contribuição de
solidariedade. Pois, graças a esses anônimos consegui reestruturar-me outra
vez. Agora percebo que para saber quem são os genuínos amigos precisamos passar
pela desgraça e não pelo sucesso. Não havia me dado conta disso. Verónica R.
Marengo é quem afirma em versos que um amigo é aquele que caminha ao teu lado,
tanto nos bons como nos maus momentos. É aquele que mostra que te quer com
pequenos detalhes cotidianos. E o que te escuta, sem estar de acordo contigo,
não te julga. Amigo é o que te reprovas e demonstra o muito que lhe importas. Um
amigo é o que adivinha o que te preocupa, sem perguntar-te nada e trata de
fazer-te o bem. É aquele que ri contigo e te fortalece com suas palavras.
Na viagem de retorno a Porto Alegre sentei na mesma poltrona
do ônibus em que viajaria também o amigo, advogado, Sérgio Luis Saldanha
Dornelles. Há muito tempo que não nos encontrávamos. A viagem além de se tornar
agradável pelo bom papo, deu a impressão que demorou menos que das outras
vezes. Recordamos muita coisa, principalmente fatos ocorridos no passado e que
fazem parte da história de Erechim. Algumas confidências, inclusive, foram
trocadas, principalmente a respeito de amizades que foram importantes num lapso
de tempo não muito distante, mas que hoje deixaram de ser.
Foram cerca de
cinco horas e meia de bom convívio no interior de um ônibus. Como bom advogado
que é, aproveitei para fazer uma consulta de cortesia. Quis saber como - por
exemplo - se procede para propor uma ação penal pública,
pois acho que esta seria a forma como um cidadão, ou mais da comunidade, pode
ingressar na Justiça contra o Correio por não responder devidamente as queixas
da cidade contra o desleixo do prédio de sua propriedade, uma verdadeira maloca
no centro de Erechim. Foi então que fiquei sabendo que no direito penal brasileiro,
é a ação penal que depende de iniciativa do Ministério Público. Ela sempre se
inicia por meio da denúncia
que é a peça inicial do processo. Ela se contrapõe à ação penal privada,
onde a iniciativa para a propositura da ação não pertence ao poder público,
mas ao particular, que oferecerá queixa
Tenho a impressão que é por aí que poderemos solucionar o problema.
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