sexta-feira, 12 de abril de 2013



A MORTE NA PORTA DO HOSPITAL
Chega ser revoltante o que vem ocorrendo com a saúde pública em nosso Estado e no Brasil. A notícia veiculada na quarta-feira, 10, pelos jornais da capital mostram que, verdadeiramente, não temos uma política de saúde séria e humana. As pessoas se amontoam nos corredores dos hospitais,  morrem e ninguém é responsável pelo caos existente, não por culpa dos médicos e casas de saúde, mas por negligência e descaso dos governos que não cumprem a Constituição. “A saúde é dever do Estado e direito do cidadão”.
O caso recente de um pai que assistiu a morte do filho portador de um câncer múltiplo avançado, remói o sentimento de impotência de quem enfrentou o calvário em busca de um leito de emergência na rede de saúde. E perdeu.
Durante quatro dias a família do doente apelou, telefonou para os hospitais credenciados ao IPE, passou cinco horas com o filho em frente ao hospital e a morte chegou antes do atendimento de que buscava.
A história de Luiz Marcelo Dias, 58, comove ao mais empedernido e desapiedado coração
Os nossos políticos e governantes não estão nem ai. Enquanto a saúde pública no Brasil é semelhante a um cenário de guerra, deputados há que apresentam projetos os mais inapropriados e paradoxos, como aquele que quer instituir no país o Estatuto do Presidiário que dá condições ao encarcerado ter em sua cela rádio, TV a cabo, jornais, médico próximo ao presídio... É inacreditável! E não se vê na grande mídia uma voz que se levante contra essa cafrice paranoica de um deputado megalômago que debocha da sociedade brasileira.
Mesmo em tempo de paz estamos vivendo como se estivéssemos numa guerra.
O pai desse rapaz peregrinou durante quatro dias, indo de Pôncio a Pilatos, enfrentou filas, perdeu noites de sono, e quando alimentava a esperança de conseguir uma vaga, ao chegar à emergência da Santa Casa, uma placa avisava: o tempo de espera é de sete horas.
Como Marcelo estava fraco, gemia de dor e já não comia, acabou morrendo, porque todos os caminhos conhecidos para tentar sua salvação foram inúteis. Em todas as ligações telefônicas para Santa Casa, Hospital da PUC, Hospital Conceição e Hospital Ernesto Dorneles, a resposta era sempre a mesma: lotado, superlotado.
Teve um hospital que quando ambulância chegou com o doente a, o examinar o prontuário disse que aqueles não eram os papéis adequados, e que não havia passado pela regulação do Samu, e não deixaram nem passar da porta.
Depois desse calvário todo, sem que os contatos telefônicos conseguissem resolver a situação, o paciente acabou morrendo.
O pai de Luiz Marcelo é formado em ciências políticas e atuariais, com pós-graduação em Desenvolvimento Econômico e Social pela Comissão Econômica para a América Latina da ONU. Portanto, não é uma pessoa comum. Vladimir Duarte Dias, não se conforma até hoje de ter perdido seu filho sem que antes tivesse coseguido um leito que poderia amenizar seu sofrimento. Nessas horas não adiante ter conhecimento, recurso. O problema é estrutural.
A situação da saúde pública precisa ser encarada como um cenário de guerra pelas autoridades. Falando a imprensa o pai do paciente disse que gostaria de ver as forças armadas agindo com hospitais de campanha para ajudar a minimizar o caos reinante, como se faz nos campos de batalha.
— Estamos em um estado de guerra, não pode ser tratado de forma convencional — defende.
Autor de livros como Genealogia da Liberdade, também reflete sobre a ganância que teriam feito muitos médicos acastelarem-se em "nos casulos de suas fortalezas de alto padrão e clientes de grande poder econômico e político". Mas considera que a principal responsabilidade é do poder público, que não tem plano de ação e age tentando tapar furos.
— Não adianta brigar com ninguém no balcão, a responsabilidade pelo que aconteceu está nos palácios, e eles não vão ouvir.
Do Marcelo fica somente a lembrança e a saudade de uma pessoa doce, humilde e amorosa.

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