A
MORTE NA PORTA DO HOSPITAL
Chega
ser revoltante o que vem ocorrendo com a saúde pública em nosso Estado e no
Brasil. A notícia veiculada na quarta-feira, 10, pelos jornais da capital
mostram que, verdadeiramente, não temos uma política de saúde séria e humana.
As pessoas se amontoam nos corredores dos hospitais, morrem e ninguém é responsável pelo caos existente,
não por culpa dos médicos e casas de saúde, mas por negligência e descaso dos
governos que não cumprem a Constituição. “A saúde é dever do Estado e direito
do cidadão”.
O
caso recente de um pai que assistiu a morte do filho portador de um câncer
múltiplo avançado, remói o sentimento de impotência de quem enfrentou o
calvário em busca de um leito de emergência na rede de
saúde. E perdeu.
Durante quatro
dias a família do doente apelou, telefonou para os hospitais credenciados ao
IPE, passou cinco horas com o filho em frente ao hospital e a morte chegou
antes do atendimento de que buscava.
A
história de Luiz Marcelo Dias, 58, comove ao mais empedernido e desapiedado
coração
Os nossos
políticos e governantes não estão nem ai. Enquanto a saúde pública no Brasil é
semelhante a um cenário de guerra, deputados há que apresentam projetos os mais
inapropriados e paradoxos, como aquele que quer instituir no país o Estatuto do
Presidiário que dá condições ao encarcerado ter em sua cela rádio, TV a cabo, jornais,
médico próximo ao presídio... É inacreditável! E não se vê na grande mídia uma
voz que se levante contra essa cafrice paranoica de um deputado megalômago que
debocha da sociedade brasileira.
Mesmo em
tempo de paz estamos vivendo como se estivéssemos numa guerra.
O pai
desse rapaz peregrinou durante quatro dias, indo de Pôncio a Pilatos, enfrentou
filas, perdeu noites de sono, e quando alimentava a esperança de conseguir uma
vaga, ao chegar à emergência da Santa Casa, uma placa avisava: o tempo de
espera é de sete horas.
Como
Marcelo estava fraco, gemia de dor e já não comia, acabou morrendo, porque
todos os caminhos conhecidos para tentar sua salvação foram inúteis. Em todas as
ligações telefônicas para Santa Casa, Hospital da PUC, Hospital Conceição e
Hospital Ernesto Dorneles, a resposta era sempre a mesma: lotado, superlotado.
Teve um
hospital que quando ambulância chegou com o doente a, o examinar o prontuário
disse que aqueles não eram os papéis adequados, e que não havia passado pela
regulação do Samu, e não deixaram nem passar da porta.
Depois desse
calvário todo, sem que os contatos telefônicos conseguissem resolver a
situação, o paciente acabou morrendo.
O pai de
Luiz Marcelo é formado em ciências políticas e atuariais, com pós-graduação em
Desenvolvimento Econômico e Social pela Comissão Econômica para a América
Latina da ONU. Portanto, não é uma pessoa comum. Vladimir Duarte Dias, não se
conforma até hoje de ter perdido seu filho sem que antes tivesse coseguido um
leito que poderia amenizar seu sofrimento. Nessas horas não adiante ter
conhecimento, recurso. O problema é estrutural.
A
situação da saúde pública precisa ser encarada como um cenário de guerra pelas
autoridades. Falando a imprensa o pai do paciente disse que gostaria de ver as
forças armadas agindo com hospitais de campanha para ajudar a minimizar o caos
reinante, como se faz nos campos de batalha.
— Estamos
em um estado de guerra, não pode ser tratado de forma convencional — defende.
Autor de
livros como Genealogia da Liberdade, também reflete sobre a ganância que teriam
feito muitos médicos acastelarem-se em "nos casulos de suas fortalezas de
alto padrão e clientes de grande poder econômico e político". Mas
considera que a principal responsabilidade é do poder público, que não tem
plano de ação e age tentando tapar furos.
— Não
adianta brigar com ninguém no balcão, a responsabilidade pelo que aconteceu
está nos palácios, e eles não vão ouvir.
Do
Marcelo fica somente a lembrança e a saudade de uma pessoa doce, humilde e
amorosa.
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