segunda-feira, 6 de junho de 2011

A HISTÓRIA É A LUZ DA VERDADE

“Um povo sem memória é um povo sem Históiria. Um povo sem Histótia está fadado a cometer no presente e no futuro, os mesmos erros do passado”.
Emilia Viotti da Costa – historiadora brasileira

“A história é a vida da memória, mestra da vida, arauto da antiguidade”. Li esta frase não sei onde nem quando. Perdoe-me o seu autor pela falta da lembrança. Afinal, o meu cérebro já conta 75 anos e começa a entrar na fase como a maioria dos neurologistas considera: amnésia retrógrada ou anterógrada, não sei!
Mas, quero comentar nesta terça-feira de temperatura fria para esquentar o pensamento, que os feitos de proeminentes pessoas da nossa vida comunitária se não as recordarmos, estão fadados ao esquecimento, privando as novas gerações conhecerem a sua história. É o que vou procurar fazer hoje: recordar. Lembrar de três figuras extraordinárias, que deixaram bons exemplos entre nós: o Desembargador de Justiça, e ex-diretor do Foro local, Dr. Júlio Costamilam Rosa, idealizador do Patronato São José e o notável médico Dr. José Carlos Fonseca Milano, ex-prefeito, ex-reitor da UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul. E o terceiro, que prestou relevantes feitos à comunidade erechinense, Olympio Zanin, professor e advogado. Por este último, que o conheci mais intimamente, recordo-o pelo apreço que tinha por ele. Mesmo não tendo a proeminência dos outros dois e pela falta de relevo e consideração justa e merecida da nossa farisaica sociedade, poucos se lembram dele.
Chico Zanin, como era carinhosamente conhecido, foi um dos tantos advogados inteligentes que militou no nosso Fórum, sempre com denodo e pujança defendendo os mais fracos.
Olympio Zanin nasceu em Veranópolis e veio para Erechim em 1932. Formou-se em Direito pela Faculdade de Pelotas em 1947. É dele o mérito e a iniciativa em trazer para Erechim em 1948 o SENAC - Serviço de Aprendizagem Nacional, a primeira escola profissionalizante a se instalar no município. O SENAC oferecia cursos de formação de datilógrafos e secretariado. Tive o privilégio de ser seu aluno e afirmo que valeu à pena ter recebido tantos ensinamentos do mestre Chico Zanin.
Permaneceu como diretor da instituição local durante nove anos, tendo sido afastado por suas convicções políticas. Mais tarde, foi professor laureado nos colégios Medianeira, São José, Instituto Barão do Rio Branco e fundador da Biblioteca Pública “Gladstone Osório Mársico”.
Recebeu sempre a admiração de seus alunos tanto que, em 1950, recebeu da turma da Escola Técnica Medianeira uma comenda onde os alunos expressam o “agradecimento ao mestre pelo desempenho do cargo”; comenda do Curso Técnico Feminino e do Município de Erechim, pelo reconhecimento em ter sido pioneiro fundador e incentivador da nossa Biblioteca Pública.
Escreveu vários livros entre eles Diálogo e Educação Sexual, Prosa e Verso, Uma Luz nas Trevas e História Universal da Literatura, talvez a mais importante de sua autoria. Tenho a informação de que ele levou 20 anos para concluí-la. O que mais se poderia dizer do Chico. Sim, ele era um conservacionista e apaixonado pela natureza. Na sua propriedade rural, próxima a cidade, ninguém podia tocar ou entrar nela sem ser convidado. Até quando lhe pertenceu, a mata existente era intocável, assim como tudo o que naquela área existia.
Antes de falecer, já muito enfermo e com dificuldades financeiras, ele escreveu uma comovente carta manuscrita, ao dileto amigo Helly Parenti. Na semana passada tive acesso a ela, e não me contive em publicá-la. A íntegra da carta é a seguinte:
“Hoje.(não coloca a data)
Amigo Ely. Como vê, piorei muito. Depois de tirar o elemento para exame, surgiu falta de ar. Ai os médicos do Hospital Santa Terezinha, determinaram minha internação pelo SUS. Agora, me disseram os mesmos médicos, que seriam obrigados a me transferir para outro quarto comum. Peço ao amigo, desesperado pela falta de dinheiro e a enfermidade grave que me enlouquece, peço o quanto antes, fale ao Diretor do H.S.T. para me beneficiar com este quarto nº. 216, ou outro similar, indo falar ao prefeito pagar minha internação no H.S.T. pagando um pouco da promessa dos meus salários em meu benefício de quem está totalmente quebrado, material e moral. Logo, Ely, porque talvez me mandem logo.
Quanto peço e te agradeço. Chico”.
Dias depois Chico Zanin morreu. Morreu pobre e sem a justa consideração da farisaica sociedade local. É dele a frase deixada em um de seus livros: ”Algum dia não chorem a minha morte, porque deixo alimento para a vida, que vale mais que a morte”.
Olympio Zanin não era um proeminente na visão da nossa sociedade. Que tristeza! Nem nome de rua; nem título de cidadão erechinense. Nada!
Ele apenas foi mais um entre nós. Mas, pra mim ele foi grande porque soube esquercer-se de si mesmo, para fazer os outros felizes. 

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