NÃO SE CONSTRÓI UM BRASIL
MELHOR SEM ANTES CRIAR A ANATIÓSE DO QUE
NÃO FUNCIONA
Domingo o Brasil vai sair ás
ruas. A crise política e econômica
que passa o País promete levar milhares de pessoas ao maior protesto da
história brasileira. Diversas entidades organizam a manifestação que vai pedir
a renúncia da presidente Dilma Rousseff. As manifestações de protestoconvocadas para domingo no país todo, não serão
como as anteriores, quando os brasileiros foram às ruas para exigir um país
melhor. O protesto não vai exigir uma mudança de regime político. Em 2013 não
ressoou nele o “Fora Dilma”. Exigiam-se dos governantes melhores serviços
públicos, melhor qualidade de vida, melhor transporte, melhoria na saúde e
melhores escolas. E menos corrupção política. Os brasileiros se sentiam conformados
com o já conseguido e não tinham tomado total consciência de que, seus serviços
públicos ainda eram de terceiro ou quarto mundo, enquanto pagavam impostos de
primeiro mundo. A manifestação de amanhã (ainda sem saber qual poderá ser sua
força) será diferente. Não se pede apenas que as coisas melhorem; rejeita-se a recessão da inflação que corrói os salários, de serviços
cada dia mais caros, de uma carga tributária que sufoca a cada ano que passa e
que não se aguenta mais a corrupção, cada vez maior e mais espalhada. E os
participantes vão gritar que saia do comando do Titanic que faz água, o PT e
sua comandante, a presidenta Dilma Rousseff. O protesto
será mais grave que o anterior porque o Brasil, em vez de ter melhorado desde
então, impulsionado pelas promessas feitas e não cumpridas, piorou. É possível
alegar que nas últimas eleições a maioria dos votos foi para Dilma, e que é
apenas a minoria que protestará amanhã, inconformada com os resultados de sua
política nefasta e desastrosa. Na verdade, quem toma o pulso da opinião pública
pode notar, como revelou a última pesquisa do Datafolha, que e essa maioria mudou. Hoje, nem Rousseff nem o PT, com muita probabilidade,
venceriam as eleições. De fato, um dos motivos que mais irritam a sociedade é
ter visto que a então candidata presidencial não contou a verdade. Mostrou um
Brasil feliz, pujante e sem crise. Jurou que não haveria cortes nem
sacrifícios, menos ainda para os mais necessitados, e acusou seus concorrentes
Aécio Neves e Marina Silva de quererem entregar o país aos banqueiros, que
acabariam roubando a comida do prato dos pobres. E hoje o ministro da Fazenda
do novo Governo é um banqueiro, Joaquim Levy, formado em uma das escolas mais ortodoxas e liberais
dos Estados Unidos. E a presidente lhe entregou, ainda que relutantemente, a
tesoura que havia condenado. A crise refletida no espelho dos protestos de amanhã
não é mais de credibilidade. E quando um
país perde a confiança em seus governantes e políticos é difícil voltar atrás. Nada
contagia mais que o desencanto, especialmente se esse desencanto mexe no bolso
das pessoas, porque se converte inevitavelmente em irritação. Se os protestos
de 2013 foram importantes porque neles o Brasil democrático se reconheceu numa
mesma esperança de melhora, o que amanhã cabe pedir é que, os brasileiros (até
os mais irritados) sejam capazes de se manifestar pacificamente, afastando os
violentos. O filósofo Hegel elaborou a tese de que não se cria uma nova síntese
(nesse caso, um Brasil melhor) sem antes ter criado a antítese do que já não
funciona. Foi essa a dinâmica de todas as revoluções da história. Algumas vezes
souberam criar uma síntese de maior liberdade e prosperidade, e outras
afundaram em sombrios totalitarismos. Oxalá o protesto deste domingo, depois do
“não” ao que a população rejeita, saiba dar um “sim” a um futuro de
prosperidade e de responsabilidade política, para pôr novamente em marcha o
trem descarrilado da economia. Oxalá esse “sim” e esse “não” os brasileiros
saibam dar juntos no domingo, sem violência, sem enfrentamento, sem prejuízos,
sem bandeiras de ideologias ultrapassadas e perigosas, unidos numa mesma esperança
de construir um país que nossos filhos possam herdar com orgulho, sem se
envergonhar. O Brasil pode e merece. Que seu povo, que nasce com o gosto pela
festa em seu sangue, transforme o protesto de amanhã numa comemoração de sonhos
com os olhos abertos. O Brasil também é isso.
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